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Há mais de dois anos que o EuroBic se encontra à venda, na sequência do caso Luanda Leaks, que rebentou em Janeiro de 2020 e obrigou Isabel dos Santos a sair da estrutura accionista da instituição. Logo na altura, o banco português esteve perto de ser vendido ao Abanca, mas divergências em relação ao preço (os galegos ofereceram inicialmente mais de 200 milhões, mas reviram o preço em baixa após a realização da due dilligence) impossibilitaram a concretização do negócio já na 25.ª hora, escreve o jornal online português ECO.
No entanto, o assunto não ficou arrumado e os accionistas do EuroBic mantiveram negociações com o banco espanhol e estão novamente em condições de fechar o negócio, havendo já um entendimento entre as duas partes que terá de esperar, ainda assim, que as autoridades judiciais e de supervisão de Angola deem luz verde. Em causa estão “negociações exclusivas para comprar a totalidade” do capital do EuroBic.
Isabel dos Santos controla 42,5% da instituição portuguesa através da Santoro e Finisantoro, tem os seus bens e contas bancárias arrestados na sequência do processo judicial colocado pela Justiça angolana, que tenta reaver o que alegadamente a empresária angolana desviou do erário público.
Por causa dos arrestos, que envolvem as várias empresas de Isabel dos Santos, há questões que têm de ser tratadas para que a venda do EuroBic se possa concretizar. O online português acrescenta que tem existido uma atitude de cooperação e de coordenação com as autoridades angolanas para desbloquear o negócio e o processo está a decorrer dentro dos prazos previstos.
Por outro lado, o negócio do EuroBic também tem de ser autorizado pelo Banco Central Europeu (BCE), em coordenação com o banco central português, que terá de aferir as condições e capacidade do comprador. Mas tratando-se o Abanca de um banco já estabelecido na Zona Euro, que nos últimos anos adquiriu várias operações, incluindo à Caixa Geral de Depósitos e Novobanco em Espanha, não deverão surgir problemas.
O Abanca, que reportou lucros de 82 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano, quer reforçar a sua presença em Portugal, um dos mercados prioritários para Juan Carlos Escotet, o dono do banco, depois de ter adquirido a operação de retalho do Deutsche Bank em 2019.
O EuroBic ainda não apresentou as contas de 2021, mas registava um lucro de cerca de 9,3 milhões de euros no exercício dos primeiros nove meses do ano passado. Apresentava em Setembro um capital próprio de 565 milhões de euros.
A seguir a Isabel dos Santos, a estrutura accionista do EuroBic conta com Fernando Teles como segundo maior accionista, com 37,5%, e outros acionistas angolanos como Luís Cortez dos Santos, Manuel Pinheiro Fernandes e Sebastião Lavrador (cada um com 5% do capital).
Quanto à participação de Isabel dos Santos no BIC, o banco angolano, sabe-se que o Banco Nacional de Angola, numa tarefa que está das competências do regulador, tem pressionado no sentido de a filha do ex-presidente da República sair da estrutura accionista, indo, de alguma forma ao encontro das intenções de Isabel dos Santos que já terá mostrado intenções de vender a sua participação, concretamente, durante a última assembleia geral do banco, na qual participou remotamente.
Segundo o África Monitor “o desanuviamento recente por que passaram as relações entre João Lourenço e José Eduardo dos Santos é considerado susceptível de levar o regime a optar por uma “saída airosa” para o assunto da participação de Isabel dos Santos no BIC, eventualmente no contexto de uma fusão com o BNI”.