ZAP já não está «Viva»
Até ao último suspiro de vida, os funcionários da cadeia televisiva ainda acreditavam que o Ministério da Comunicação Social viesse a reverter o quadro no sentido de assegurar as centenas de postos de trabalho.
Em Dezembro último, o ministro de tutela havia dado garantias, em declarações públicas à imprensa, de que a situação poderia regressar à normalidade e os postos de trabalho seriam assegurados. Ledo engano! Nesta terça-feira, 11, dezenas de jovens, num gesto comovente, juntaram-se diante das instalações da estação de Talatona para agradecer à direcção da ZAP pelo favor que esta fez em pagar-lhes os 9 meses de salários, mesmo sem que estivessem a produzir.
O drama deste canal televisivo, afecto à empresária Isabel dos Santos, começou quando, em Abril do ano passado, o Ministério da Comunicação Social suspendeu as actividades da ZAP, a pretexto de que a mesma não estava legalizada, o que seria um assunto de natureza administrativa.
Pelos mesmos motivos foram igualmente suspensas a Vida-TV e Record África, esta última ligada à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Embora o argumento usado para a suspensão das actividades fosse de que os meios de difusão de conteúdos televisivos em causa não estavam legais, há no entanto outras razões que, na opinião de fontes convergentes, levaram à suspensão e posterior encerramento dos mesmos.
As distintas fontes apontam as posturas críticas desses órgãos ao desempenho governativo do presidente João Lourenço, assim como o facto de o mesmo estar ligado à Isabel dos Santos, pelo que haveria a necessidade de «limpar o caminho» antes das eleições de 2022.
Estas análises ganham uma certa consistência, tendo em conta que, num passado recente, o Executivo procedeu ao «confisco» de outros meios de comunicação social privados, nomeadamente a TV-Zimbo, Palanca-TV, a rádio Mais e o jornal o País, afecto ao grupo Media Nova, tendo em função disso subvertido as suas linhas editoriais por via da censura e auto censura.
O encerramento destes meios de comunicação colide frontalmente com as declarações públicas do Chefe de Estado, João Lourenço, que disse na semana passada que a prioridade do seu Executivo recaía sobre a criação de empregos, o que pressupõe a manutenção dos já existentes.
No total, mais de mil e tal postos de trabalho foram à vida, o que tem vindo a trazer sérios dissabores em muitos lares.