Vamos aos factos: 1) Tito Cambanje participou na brutal agressão a um segurança de uma empresa privada, que desempenhava funções num edifício, no Maculusso – as imagens estão documentadas por câmaras de videovigilância; 2) a brutal e desigual agressão – vários contra um – aconteceu na manhã do dia 12 de Junho 3) há testemunhos que indicam que o segurança, de nome “Sr. Pazito”, só sobreviveu devido à pronta intervenção da polícia e dos vizinhos 4) segundo os mesmo testemunhos, Tito Cambanje e outro dos elementos que participaram no espancamento colocaram-se em fuga e escaparam à detenção policial.
Entre os dias 12 de Junho e 20 de Junho, o caso não foi conhecido, não se conhecem as consequências ou quaisquer queixas-crime relativamente ao acto que não pode ser classificado de outra forma que não de uma acto de barbaridade, contrário à lei e aos Direitos Humanos, e nele participou um candidato a deputado nas listas do MPLA e membro do Comité Central, sem que os órgãos do partido tenham dito seja o que for – que só podia ser de repúdio – relativamente aos factos. O silêncio do MPLA tem, também, uma leitura política.
Todo o cidadão é inocente até prova em contrário, mas as imagens são uma gritante denúncia- sendo que o próprio já assumiu a sua intervenção – e por esta altura, no mínimo, as autoridades já devem ter aberto uma investigação para apurar os factos que só não terminou em tragédia por acaso e conduzir os arguidos a tribunal.
Entretanto, e nunca é demais lembrar, Tito Cambanje é um jurista e um político prometedor do MPLA.
Tito Cambanje, no local onde ocorreu a agressão, captado pelas câmaras de videovigilância
Cambanje não contou, muito provavelmente, com uma nova realidade – é que as redes sociais vieram democratizar a Justiça no sentido em que a tornaram mais acessível a todos, pelo menos no que tem a ver com a denúncia.
Na sua página do Facebook, o jurista escreve: “Circulam nas redes sociais vídeos a retratar uma situação de violência gratuita, pondo em causa o meu bom nome, enquanto cidadão e chefe de família, e a idoneidade da minha qualidade de Jurista. Os vídeos retratam uma atitude face à qual garanto que nada tem a ver com o meu carácter, com a minha forma de estar em comunidade, algo facilmente testemunhado por quem prive regularmente comigo”.
E prossegue: “Os vídeos massificados nas redes sociais preformam apenas uma parte dos eventos que os geraram cuja íntegra foi detalhada aos órgãos judiciais competentes aos quais me predispus, desde cedo, a detalhar o curso dos acontecimentos e a prestar toda a colaboração necessária, tendo ainda manifestado perante os mesmos a minha firme vontade de assumir as consequências decorrentes”.
Não contestando o essencial, o que as imagens reportam, Cambange escreve: “Os eventos filmados decorreram de uma situação de estresse advinda de julgadas ameaças à integridade física e patrimonial, levando ao despertar dos meus instintos mais básicos de forma menos racional”.
E adianta: “No entanto, após os devidos esclarecimentos, tratei de corrigir, ao máximo possível, os efeitos dos meus actos, prestando assistência médica e psicológica, quando resultou necessário, às figuras mais directamente afectadas”.
Ainda acrescenta: “Tenho, entretanto, consciência de que os afectados não foram apenas os envolvidos directamente nas cenas retratadas nos vídeos, mas todos que o assistiram e se sentiram defraudados por tudo quanto se espera de quem desempenhe as funções que desempenho e tenha as influências que tenho no seio da sociedade angolana”.
Por último: “Apresento, por isso mesmo, os meus mais sinceros pedidos de desculpa e manifesto o mais autêntico arrependimento junto de todos quanto se tenham ofendido em consequência dos actos que pratiquei, em particular a minha família injustamente arrastadas para uma polémica que em nada nos dignifica enquanto seres humanos e tementes a Deus”.
E, naturalmente, coloca-se à disposição das autoridades “e dos órgãos judiciais no sentido de esclarecer os factos e de assumir as consequências deles decorrentes”.
É neste patamar que consideramos que Tito Cambanje não pode ser dissociado de uma outra condição, a de membro do MPLA, do Comité Central do partido, e agora, e a seu pedido, retirado das listas de candidatos a deputado nas eleições gerais de 24 de Agosto.
Em vésperas de eleições, numa altura em que, e tal como acontece em qualquer parte do mundo nas mesmas circunstâncias, procuram-se as fragilidades dos oponentes, a atitude de Tito Cambanje traz vulnerabilidade ao MPLA, que assobia para o lado. Mas será que pode?