A ficção é a versão negativa da realidade? É uma pergunta que se têm feito acerca da série que estreia esta semana, na Netflix, mais precisamente nesta quarta-feira, dia 9 de Novembro.
E esta 5.ª temporada, e última, uma vez que se adivinha o fim, ou seja, que corresponderá à morte da mais icónica rainha do último século, Isabel II, vai revisitar os momentos mais dolorosos da vida do actual rei, Carlos III, naquilo que ´para muito uma espécie de um regresso ao passado que o ensombrou durante anos, nomeadamente, quando aos olhos da opinião pública ele surgiu como um mau marido e o responsável pela ruína do casamento com Diana Spencer, a princesa de Gales.
Enquanto para a maioria dos países, “The Crown” é entretenimento, na Grã-Bretanha, além do entretinimento é ainda desconforto, porque é a família real que está em jogo, ainda que a Netflix deixe claro que a série é uma dramatização ficcional, mas para a maioria dos pessoas não será possível fazer a dissociação entre as personagens da ficção e as personagens reais que eles veem todos os dias.
É que ao contrário das primeiras temporadas, que apresentaram figuras históricas como Winston Churchill, muitas das personagens retratados na quinta temporada ainda estão vivos.
É importante para o futuro da monarquia e sua capacidade de projectar poder no mundo, se Carlos for visto como um idiota, essa imagem sai danificada, naturalmente.
Enquanto a rainha Isabel II era amplamente adorada, Charlos é apenas apreciado por 44% do público britânico, resto ou é neutro ou hostil.
A nova temporada de “The Crown” sendo “transmitida num momento em que Charlos e Camila procuram afirmar-se como rei e rainha [consorte] – não poderia ter surgido em pior altura”, disse Anna Whitelock, professora de a história da monarquia na City, University of London, citada pelo The Washington Post.
Mas não é só a família real que está incomoda, ex-primeiros ministros como John Major ou Tony Blair já se referiram à série como estando cheia de momentos idiotas e ou como um “lixo completo e absoluto”, como foi o caso de Blair.
Enquanto isso, historiadores e biógrafos reais discutem a série e o significado de suas mensagens.
Uma pesquisa recente realizada na Grã-Bretanha pelo YouGov descobriu que menos de 20% dos entrevistados consideraram a série totalmente ou quase precisa, isto é, credível e com relação directa com a realidade. Mas os jovens entre os 18 a 24 anos eram três vezes mais propensos a levarem a ficção a sério relativamente àqueles com 65 anos ou mais. E há uma dimensão da percepção pública que não é transmitido nas pesquisas de opinião.