Sergey Lavrov, o ministro das Relações Exteriores russo, criticou, esta quarta-feira, em Luanda o que designou de “métodos colonialistas” do Ocidente, com uma pressão “sem precedentes” sobre os países em vias de desenvolvimento para apoiarem a Ucrânia e aquilo que classifica como a “imposição do nazismo”.
O veterano diplomata, que é o rosto da política externa do presidente Vladimir Putin e um dos seus mais leais apoiantes, Sergey Lavrov veio a Luanda lembrar a João Lourenço e ao MPLA o papel determinante da ex-URSS na ascensão do partido ao poder, e fê-lo, sem grande pudor, no Palácio da Cidade Alta, à saída de uma audiência com o Presidente João Lourenço, e ainda na residência oficial do Presidente da República lembrou que o Ocidente “pode trair os aliados” de um momento para o outro. O recado fica dado.
Voltando ao tom moderado e contido da diplomacia, Lavrov saudou “o diálogo muito prolongado e consistente” com o Presidente João Lourenço, com quem discutiu, em detalhe, as relações bilaterais, notando a intenção recíproca de as desenvolver em vários domínios
“E vamos fazê-lo apesar da pressão ilegítima dos EUA e seus parceiros”, realçou o chefe da diplomacia russa, apontando como próxima tarefa a preparação da reunião intergovernamental mista para a cooperação económica comercial técnica e científica, que terá lugar, muito provavelmente, em Abril, em Luanda.
A guerra na Ucrânia foi naturalmente tema de conversa, o ministro das Relações Exteriores da Rússia admitiu que tinha falado bastante do assunto com o Presidente João Lourenço, concretamente “sobre o apoio do Ocidente às práticas na Ucrânia de imposição do nazismo e da guerra híbrida que é desenvolvida contra o nosso país”, disse Lavrov em Luanda.
“Apresentámos os nossos pontos de vista baseados nos nossos contactos que provam a pressão sem precedentes sobre os países em vias de desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, nesse sentido”, criticou abertamente o responsável pela democracia do Kremlin.
“Como disse várias vezes o nosso presidente (referindo-se a Putin), o Ocidente está a utilizar os mesmos métodos colonialistas que usava antigamente para, da mesma maneira colonialista, aproveitar os bens dos países atualmente”, acrescentou o diplomata russo que paralisou a economia e o desenvolvimento do vizinho ucraniano com sérias implicações no desenvolvimento económico global.
Lavrov disse ainda que “o Ocidente pode, de um momento para o outro trair os seus aliados” como aconteceu no Afeganistão e no Iraque.
“Os países sérios e responsáveis vêem muito bem esses comportamentos e estão prontos a tomar medidas para proteger os seus interesses, inclusive no domínio financeiro”, fez questão de dizer Lavrov, que apontou as “iniciativas muito recentes” de criação de divisas próprias para os países dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia e China) e da América Latina e Caraíbas, uma questão que será discutida na cimeira deste grupo em finais de Agosto, em Durban (África do Sul), para a qual será convidado um grupo de países africanos incluindo o presidente angolano, disse Lavrov.
Antes de se encontrar com o chefe de Estado angolano, Lavrov e a sua delegação esteve reunido com o seu homólogo, Téte António. No final da reunião disse que “os domínios que temos em perspectiva são energias, telecomunicações, tecnologias de informação, geologia e minas, espacial e a agro-indústria” para o reforço das relações bilaterais.
Nessa altura, o ministro das Relações Exteriores russo, lembrou as relações históricas e de amizade com Angola e recordou a cooperação já existente no domínio económico, técnico militar e humanitário.
O lançamento do satélite angolano Angosat2, em Outubro passado, observou o ministro russo, “permite abrir novas linhas de cooperação não só no domínio espacial, mas em outras áreas de tecnologias”.
Falou ainda do desenvolvimento da cooperação no sector humanitário, sobretudo do domínio da formação, dando conta que Rússia decidiu duplicar as bolsas de estudo que oferece à Angola, que devem passar de 150 para 300, em 2024.