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Oposição põe fim ao governo interino de Juan Guaidó

No início de 2019, enquanto o presidente Nicolás Maduro reivindicava a reeleição através de uma votação amplamente tida como fraudulenta, o líder do parlamento apresentou-se perante uma multidão de milhares de pessoas na Praça João Paulo II, em Caracas, a capital da Venezuela, assumindo-se como líder legítimo do país.

O então presidente da Assembleia Nacional venezuelana, controlada pela oposição, foi rapidamente apoiado pelo governo dos Estados Unidos, com Donald Trump na Casa Branca, pela União Europeia e por governos de todo o mundo, a partir da premissa que Juan Guaidó, com 35 anos, tinha sido democraticamente eleito, ao contrário do que acontecia com a reeleição de Maduro.

Como figura unificadora de uma oposição historicamente dividida, Guaidó passou a “presidente interino” do país até que Maduro deixasse o cargo – ou, pelo menos, concordasse em realizar eleições livres e justas.

Mas passaram-se quatro anos, e não aconteceu nem uma coisa, nem outra, a presidência interina chegou ao fim, esta sexta-feira. Os deputados da oposição que apoiaram Guaidó ao longo deste tempo votaram 72 contra 29 pela dissolução do chamado governo interino, dando por encerrado o seu mandato.

“Depois de quatro anos, não devemos continuar a manter um sistema que não deu resultados e é um fardo burocrático”, disse Nora Bracho, membro de um dos três principais partidos da oposição que votaram pelo fim do governo interino, em declarações ao The Washington Post antes o voto, e acrescentou: “Temos que nos reinventar e avançar na nossa luta.”

O que está em jogo não é apenas a perspectiva de eleições competitivas, livres e justas, sob o regime autoritário de Maduro e o envolvimento dos EUA com o país, mas também o controle dos principais activos do governo no exterior – a Citgo Petroleum Corp., com sede em Houston, e o ouro armazenado no Banco da Inglaterra, que têm vindo a ser administrados pelo governo interino.

Os deputados estabeleceram um comité para proteger esses activos e administrar as despesas. A Assembleia Nacional, eleita em 2015, vai continuar até 2023, mas apenas para legislar sobre questões relacionadas com o património.

Num vídeo postado no Twitter, esta quinta-feira, Guaidó disse que estava disposto a permitir que o parlamento escolhesse outro líder, e acrescentou que insistir na presidência interina não tinha a ver com ele, além do mais, havia que respeitar a Constituição.

Guaidó, agora com 39 anos, disse no ano passado que permaneceria como presidente interino “até que haja uma eleição presidencial livre e justa. … Esse é o meu mandato constitucional.”

A União Europeia, entretanto, deixou de reconhecer Guaidó como presidente interino, assim como muitos países da América Latina.

Os Estados Unidos, com a ajuda de aliados conservadores na América Latina, conseguiram barrar os representantes de Maduro nas cadeiras da Venezuela em organizações internacionais e regionais, incluindo a Organização dos Estados Americanos e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, e substituí-los por funcionários de Guaidó.

Mas uma onda de eleições em alguns dos países mais poderosos da região, incluindo Brasil, Argentina, Colômbia e Chile, levou esquerdistas ao poder e com outras prioridades.

Também não está claro quanto dinheiro a oposição administra – ou como o está a ser usado. Numa conferência de imprensa no passado mês de Setembro, Guaidó disse que entre 2020 e 2021 gastou 130 milhões de dólares de fundos “protegidos pelos Estados Unidos” e acrescentou que o seu governo usou dinheiro em ajuda humanitária, na “defesa da democracia”, na manutenção da Assembleia Nacional e gestão de bens no estrangeiros.

A par de tudo isto, a verdade é que o governo interino foi acusado de corrupção e do uso indevido de fundos – inclusive por alguns de seus próprios membros.

Guaidó, um deputado da oposição relativamente desconhecido antes de ser nomeado presidente interino, chegou a reivindicar o apoio de quase 60% dos venezuelanos nas sondagens. Mas uma pesquisa recente da Universidade Católica Andrés Bello e da Delphos indicou que os inqueridos votariam mais em Maduro do que em Guaidó – 56% votariam em Maduro e a maioria dos inquiridos foi de opinião que o governo interino devia desaparecer.

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