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A Arábia Saudita e o Irão chegaram a um acordo que abre caminho para o restabelecimento dos laços diplomáticos entre os dois países, após uma separação de sete anos, este realinhamento entre os rivais regionais foi facilitado pela China, anunciaram ambos os países, sexta-feira, numa declaração conjunta.
Autoridades sauditas e iranianas anunciaram o acordo após conversas esta semana na China - que mantém laços estreitos com os dois países - segundo o comunicado, divulgado pela agência oficial de notícias saudita. A media estatal do Irão também anunciou um acordo.
Os dois países concordaram em reactivar um pacto de cooperação, que tinha caducado, bem como acordos comerciais, de investimento e culturais.
A Arábia Saudita e o Irão reabrirão as embaixadas nos países um do outro dentro de dois meses, e ambos os Estados confirmaram o "seu respeito pela soberania das nações e a não interferência nos seus assuntos internos", disse o comunicado.
O papel da China em acolher representantes dos dois países, rivais de longa data, para as negociações é também sinal da crescente importância económica e política do país no Oriente Médio, uma região muito foi moldada pelo envolvimento militar e diplomático dos Estados Unidos.
Autoridades sauditas e iranianas estiveram envolvidas em várias rondas de negociações nos últimos dois anos, que passaram também pelo Iraque e por Omã, mas sem avanços significativos. Até que entrou a China.
O presidente chinês Xi Jinping visitou Riad em Dezembro, uma visita de Estado celebrada por autoridades sauditas.
"Isso é um reflexo da crescente influência estratégica da China na região – o facto de ter muita influência sobre os iranianos, o facto de ter relações económicas muito profundas e importantes com os sauditas", disse Mohammed Alyahya, membro saudita da Belfer Center for Science and International Affairs, em Harvard, ao The New York Times, que acrescentou: "Existe um vazio estratégico na região e os chineses apareceram para o capitalizar."
O mais alto responsável pela política externa da China, Wang Yi, indicou, em comunicado publicado no site do Ministério das Relações Exteriores da China, que Pequim desempenhou um papel fundamental no acordo.
"Esta é uma vitória para o diálogo, uma vitória para a paz, e é uma grande notícia, muito positiva, para o mundo que, actualmente, está tão turbulento e inquieto, e envia um sinal claro", diz o comunicado, que prossegue: "O mundo não é apenas a Ucrânia, e há muitas questões relacionadas com a paz e ao bem-estar das pessoas que exigem a atenção da comunidade internacional e devem ser abordadas adequadamente pelas partes envolvidas, em tempo útil."
O Ministério das Relações Exteriores de Israel não comentou imediatamente a notícia, que, por certo, deverá inquietar Israel, que tentava estreitar os seus laços com a Arábia Saudita - e o Irão nuclear é o outro inimigo de Israel na região.
Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelita, afirmou repetidamente nos últimos meses que era sua intenção estreitar os laços diplomáticos entre Israel e a Arábia Saudita.
O acordo ocorre no momento em que a China tenta desempenhar um papel mais activo na geopolítica global, com o anúncio de uma solução política para a guerra na Ucrânia - que nem Kyiv nem Moscovo levaram muito a sério - e o que chamam de Iniciativa de Segurança Global, uma tentativa de suplantar o papel dominante de Washington na resolução de crises e conflitos mundiais.