DR
A juiz-presidente do Tribunal de Contas, numa clara dissociação com a realidade, falta de que os filhos também partilham, agarrou-se com unhas e dentes ao cargo e ao enriquecimento ilĂcito, e até pediu ajuda a Ana Dias Lourenço, depois de o Presidente da RepĂșblica lhe ter indicado a porta de saĂda e ter pedido que os bens da juĂza fossem confiscados.
O caso de Exalgina GĂąmboa, e sem querer diabolizar a juĂza que fez mais carreira no MPLA do que na magistratura, é paradigmĂĄtico de comportamento interiorizado pela elite, em que os bens pĂșblicos passam a privados sem qualquer pudor. Quando confrontados com essa atitude, procuram na teia de relações construĂdas ao longo de anos a protecção que sabem que a lei não lhes dĂĄ.
Mais do que impunidade, hĂĄ uma certa desresponsabilização e infantilização dos actores polĂticos, administrativos e judiciais, que procuram no "pai" – o Presidente da RepĂșblica, no caso João Lourenço - protecção e aceitação, e, no limite, uma qualquer reprimenda, e fica tudo por aĂ.
Sendo que esta ideia de "pai" que a todos protege, é uma ideia disseminada pelo MPLA e pelos órgãos de comunicação pĂșblicos, ou seja, faz parte da narrativa oficial. A nosso ver, errada, e devia ser corrigido, para que qualquer cidadão se sentisse verdadeiramente responsabilizado pelos seus actos, desde os que roubam cobre nos postos de electricidade pĂșblica aos que juĂzes que presidem às instituições supremas do poder judicial.
O Jornal de Negócios revela que Exalgina GĂąmboa, e depois de ter sido repreendida pelo "pai", dada a avidez no uso de dinheiro pĂșblicos, recorreu à "mãe", a Ana Dias Lourenço, a quem pediu para interceder por ela para que se pudesse manter em funções. Foi um pedido inĂștil.
Como escreve o jornal "é um caso que expõe os graves problemas que existem na justiça angolana assim como a existĂȘncia de um clima de impunidade e de aproveitamento de uma situação de privilégio que potencia a prĂĄtica de crimes semelhantes àqueles que é acusada a ex-lĂder do TC".
Num altura em que estava a ser investigada pela Procuradoria-Geral da RepĂșblica, Exalgina GĂąmboa, e sem noção do cargo que ocupava e da responsabilidade inerente acrescida, fez tudo para se manter no cargo, e foi disso mesmo que tentou convencer o Presidente da RepĂșblica, que, e desta vez, não se deixou convencer, ainda assim, e na reunião que teve com João Lourenço no PalĂĄcio da Cidade Alta, GĂąmboa terĂĄ questionado o Presidente: "Porque tenho de ser a Ășnica a renunciar?"
Conta o jornal portuguĂȘs que a pergunta irritou profundamente o chefe de Estado que abandonou a sala.
Sem desistir, GĂąmboa terĂĄ procurado a primeira-dama para pedir ajuda, mas Ana Dias Lourenço nem sequer a recebeu, mandou recado de que nada podia fazer por ela.
Entretanto, o Presidente da RepĂșblica de tão irritado terĂĄ dado indicações para que fossem confiscados os bens da juĂza, e entre eles a moradia decorada com os quatro milhões de dólares retirados dos cofres do Tribunal de Contas. E como podemos ver, o poder tentacular do Presidente da RepĂșblica estende-se mesmo à PGR.
A Camunda News tem acompanhado este assunto com particular interesse e sabemos o que aconteceu a seguir, sem respaldo superior, Exalgina GĂąmboa, e pressionada publicamente, acabou mesmo por renunciar ao cargo e dar conhecimento disso mesmo ao Conselho Superior da Magistratura Judicial, a 1 de Março, um dia depois de ter sido constituĂda arguida pela PGR por crimes de extorsão, peculato e corrupção, num processo de que faz parte o filho Hailé Vicente da Cruz.
O jornal portuguĂȘs adianta que Joel Leonardo também deverĂĄ apresentar a sua renĂșncia ao cargo.