Poder

Lula saiu do Palácio da Planalto e teve acertar contas com a Justiça. Chegou a vez de Bolsonaro?

Ao subir pela terceira vez a rampa do poder em Brasília, há uma dimensão política que revela muito do homem de que é feito Lula da Silva e sobre o seu impressionante regresso ao poder.

Lula foi o presidente mais popular do Brasil, deixando o cargo com um índice de aprovação acima de 80%. Mas depois cumpriu 580 dias de prisão, de 2018 a 2019, por acusações de corrupção, em causa estiveram as reformas que fez numa das suas casas e as suas ligações pouco recomendáveis com empresas de construção civil que tinham contratos com o governo.

As acusações foram rejeitadas pelo Supremo Tribunal do Brasil, também porque o juiz que conduziu o caso foi visto como um juiz tendencioso.

Aos 77 anos, Lula da Silva volta a ser Presidente do Brasil, com os seus partidários a dizerem que foi vítima de perseguição política e os apoiantes de Bolsonaro a dizerem que o Brasil tem agora um criminoso como presidente.

Uma multidão vestida de vermelho, as cores do Partidos dos Trabalhadores (PT) de Lula da Silva, inundou o conjunto de infra-estruturas inauguradas em 1960, para demonstrar a sua crença no líder agora eleito. A noite de festa do réveillon prolongou-se por toda a cidade e dançou-se o samba.

No entanto, e na mesma cidade, milhares de apoiantes de Bolsonaro permaneciam acampados do lado de fora do quartel-general do Exército, como têm feito desde as eleições, ainda convencidos que no derradeiro momento os militares impedissem a posse de Lula da Silva.

Afinal, 217 milhões de brasileiros, os que votaram em Bolsonaro, vêem o actual presidente como um corrupto.

No entanto, a história reescreve-se agora de uma outra forma. Jair Bolsonaro, com 67 anos, está, também ele a contas com a justiça, vinculado a cinco inquéritos separados, incluindo um sobre a divulgação de documentos relacionados a uma investigação confidencial, outro sobre ataques às urnas electrónicas no Brasil e outro sobre eventuais ligações com as chamadas “milícias digitais” que espalham desinformação.

Como cidadão comum, Bolsonaro perdeu a imunidade e o Ministério Público pode ir agora atrás dele, com alguns dos casos a serem transferidos do Supremo Tribunal para tribunais de primeira instância.

Alguns dos principais promotores de justiça federais que trabalharam nos casos acreditam que há evidências suficientes para condenar Bolsonaro, particularmente no caso relacionado à divulgação de material confidencial.

Este domingo, Lula da Silva, no discurso ao Congresso, disse que Bolsonaro poderia enfrentar consequências. “Não temos nenhuma intenção de vingança contra aqueles que tentaram subjugar a nação aos seus planos pessoais e ideológicos, mas vamos garantir o Estado de direito”, afirmou Lula, que ainda acrescentou: “Aqueles que erraram responderão por seus erros.”

É improvável que a presença de Bolsonaro nos Estados Unidos possa protegê-lo de um processo no Brasil. Ainda assim, a Flórida tornou-se, nos últimos anos, numa espécie de refúgio para os brasileiros mais conservadores.

Especialistas proeminentes de alguns dos programas de entrevistas mais populares do Brasil vivem na Flórida. Um provocador de extrema-direita, que pode ser preso no Brasil por ameaçar juízes, vive na Flórida enquanto aguarda uma resposta ao seu pedido de asilo político nos Estados Unidos. E Carla Zambelli, uma das principais aliadas de Bolsonaro no Congresso do Brasil, fugiu para a Flórida há três semanas depois de ser filmada, com uma arma na mão, a perseguir um homem na rua na véspera da segunda volta das eleições presidenciais.

Bolsonaro planeia ficar na Flórida entre um e três meses, de certa forma, tentando perceber o que fará o governo de Lula e a Justiça brasileira contra ele, isto de acordo com uma fonte próxima da família, citada pelo The New York Times. Bolsonaro não está sozinho na Florida, com ele estão quatro assessores autorizados pelo governo brasileiro, e isto é oficial.

Na Flórida, no sábado, na véspera da posse de Lula, Bolsonaro passeou na rua, tirou selfies com os seus apoiantes na Florida e foi ao popular KFC almoçar.

O NYT escreve que não incomum que ex-chefes de Estado vivam nos Estados Unidos para, por exemplo, desempenharem funções académicas ou algo semelhante, mas é incomum que um chefe de Estado procure abrigo seguro nos Estados Unidos para evitar um possível processo judicial no seu país, principalmente quando o país de origem é um aliado democrático dos Estados Unidos.

Seja como for, Bolsonaro e os seis aliados dizem que ele é agora um alvo político da esquerda brasileiro e, principalmente, no Supremo Tribunal Federal, mantém que a eleição foi fraudulenta e que Alexandre de Moraes, o juiz-presidente do Supremo Tribunal Eleitoral do Brasil é parcial e que inclinou a balança a favor de Lula da Silva.

Related Articles

Back to top button