O sigilo da delação foi levantado pelo ministro Alexandre de Moraes após publicações jornalísticas divulgarem informações fragmentadas sobre os depoimentos do réu.
Lessa, que nega ser um assassino contratado, afirmou que aceitou cometer o crime para se tornar sócio da família Brazão em uma milícia. “Eu não fui contratado para matar. Eu não sou um assassino profissional. Eu fui contratado para ser sócio e ocupar o território”, afirmou em vídeo obtido pela Folha de S. Paulo.
Ele explicou que seu papel na organização seria facilitar o acesso dentro das polícias Civil e Militar, onde trabalhou por mais de dez anos. Segundo ele, o convite para cometer o crime veio de Domingos e Chiquinho Brazão.
A investigação sobre o assassinato de Marielle Franco revelou que Lessa acessou informações de várias autoridades, pesquisadores e artistas envolvidos na defesa e garantia dos direitos humanos. A lista, fornecida pela empresa CCFácil ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), mostra consultas realizadas entre 2006 e 2018 pelo ex-policial militar. Este dado serviu como uma das evidências da participação de Lessa no crime, já que, dois dias antes da execução de Marielle, ele pesquisou seu nome na plataforma.
Outro ponto relevante é que, em 7 de abril de 2015, Lessa pesquisou os dados do então deputado federal Paulo Pimenta (PT). Um dia antes, Pimenta visitou o Complexo do Alemão com Marielle para ouvir os moradores sobre as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) instaladas no local. Na época, o deputado era presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.
A lista de consultas de Lessa foi solicitada pelo MP-RJ à CCFácil apenas em 2021. Durante a investigação, os investigadores encontraram anotações de login e senha para a plataforma na casa do ex-policial na época de sua prisão. O documento foi o primeiro a identificar uma pesquisa direta de Lessa sobre o nome de Marielle e sua filha dias antes do crime. Até então, não haviam sido encontradas consultas com o nome da vereadora, o que era um argumento da defesa para tentar negar a autoria do crime.
Durante a delação, Lessa negou envolvimento em outros crimes, como a segurança do contraventor Rogério Andrade e o assassinato de um miliciano a pedido do ex-vereador Cristiano Girão. Ele também revelou planos para assassinar Regina Celi, presidente da escola de samba Salgueiro, mas adiou o crime para não comprometer a execução de Marielle.
Os investigadores continuam apurando se o motivo para o assassinato de Marielle Franco estava ligado às denúncias da vereadora sobre a exploração imobiliária ilegal nas periferias do Rio de Janeiro. Essas denúncias teriam contrariado os interesses de Domingos Brazão, ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), e do deputado federal Chiquinho Brazão.
Lessa, que confessou o crime, afirmou ter recebido garantias de proteção para realizar o crime, alegando que a Polícia Civil do Rio estava sob controle. Segundo ele, Domingos Brazão garantiu que as consequências policiais seriam mínimas, mencionando um acordo com Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio. “Ele [Domingos] falava exclusivamente de Rivaldo Barbosa”, disse Lessa ao portal Metrópoles.
A delação também revelou que a ordem para assassinar Marielle foi dada na manhã do crime, em 14 de março de 2018, por Edmilson Macalé, ex-sargento da Polícia Militar. Lessa e Élcio de Queiroz, que dirigiu o carro no dia do crime, perseguiram o veículo de Marielle por cerca de três a quatro quilômetros antes de efetuar os disparos em um local sem câmeras na região central do Rio.