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João Martins considera que Adalberto Costa Júnior é “um lunático” e um “líder a prazo”

O dirigente do MPLA disse que só “um lunático” pensaria derrotar o partido que governa Angola desde 1975 e avisou o líder da UNITA para se conter em acções “que periguem a estabilidade”, lembrando que a subversão foi vencida em Fevereiro de 2002, quando morreu Jonas Savimbi, o fundador do partido actualmente liderado por Adalberto Costa Júnior.

João Martins, o responsável do Bureau Político do MPLA para os Assuntos Políticos e Eleitorais, enviou diversos recados a Adalberto Costa Júnior, desvalorizando mesmo o seu papel histórico na UNITA, na medida em que durante muitos anos fez parte do grupo de representantes externos do partido de Jonas Savimbi. E esta não é a primeira vez que esse facto é lembrado a Costa Júnior.

Numa conferência de imprensa convocada para negar que a UNITA mantenha conversações com dirigentes de topo do partido no poder sobre uma possível transição pós-eleitoral, o secretário do MPLA para os Assuntos Políticos e Eleitorais, João ‘Jú’ Martins, falou sobre um conjunto de afirmações gratuitas “que foram proferidas por alguém que na política angolana devia ter mais responsabilidade”.

João Martins disse que foi abordado pelo presidente do grupo parlamentar do MPLA, no sentido de se disponibilizar para um encontro com o presidente da UNITA, do qual deu nota ao presidente do partido (João Lourenço, também Presidente da República de Angola e que se recandidata ao cargo). O encontro aconteceu num hotel de Luanda, em 27 de Maio.

Ao longo de três horas e meia, falou-se de problemas do momento político actual, nomeadamente das listas dos eleitores e o tratamento da base de dados, bem como visibilidade dada pela imprensa pública à UNITA – em que, e segundo Jú Martins, Costa Júnior terá reconhecido que tem mais visibilidade nos media, e agradeceu por isso – mas não se abordaram questões relativas à transição, também porque para tratar de assuntos dessa natureza, teriam de ser mandatados pela direção do partido e pelo seu líder.

Depois fez questão de dizer que “o poder conquista-se, não se negoceia”. E claramente o MPLA não está disponível para negociar um resultado que dá como certo: a sua vitória nas Eleições Gerais de 24 de Agosto.

Houve ainda tempo para João Martins, um histórico do MPLA desde a era de José Eduardo dos Santos, advertir que “algumas das acções que a UNITA estava a instigar não abonavam em favor da estabilidade”.

“Havia da parte do actual presidente (Adalberto da Costa Júnior) a notada convicção que estava predisposto a vencer as eleições e nós, a uma pergunta directa que nos foi colocada – se tínhamos algum receio de viver num país que fosse governado e liderado por ele – respondemos de forma frontal e categórica, que em Angola há muitos lunáticos e que eu estava a falar com um lunático”, disse o responsável do BP do MPLA para os Assuntos Políticos e Eleitorais aos jornalistas.

E se eventualmente se foi criando a ideia de que a UNITA estaria em boas condições de vencer as eleições, isso resultou “seguramente” do facto de o MPLA ter limitado as actividades de massas no período da pandemia e durante o confinamento ter realizado muito poucas atividades públicas, “ao contrário de alguns segmentos da oposição e sectores contestatários da sociedade civil que ao arrepio da lei realizaram essas actividades”, disse ainda, num outro claro reparo João Martins.

Também por isso criou-se “uma falsa imagem de que o MPLA pudesse estar acantonado, o que não era verdade”, pois assim que “se levantaram as restrições foi notória a capacidade de mobilização”, destacou o dirigente.

No encontro de 27 de Maio entre dirigentes do MPLA e da UNITA, foi também transmitido a Adalberto Costa Júnior que algumas das ações que estava a organizar poderiam ter “um caráter subversivo” e que “a subversão foi vencida a 22 de Fevereiro de 2002”, e prosseguiu, “por isso, alertámos que não era avisado ele deixar que algum tipo de acções pudesse ter esse cunho, porque aí não era o MPLA que iria contender com a UNITA, e sim o Estado angolano com as suas instituições”, fez questão de sublinhar João Martins.

“Como o fez em Fevereiro de 2002, também o faria agora se continuarem a ser realizadas acções que perigam a estabilidade, a ordem pública, fora da matriz da contenda política”, numa clara alusão a formas mais contundentes de pôr fim a uma contenda política, que, naquela altura, passou pela morte de um opositor, numa altura em que o país estava em guerra civil.

E a evocação destas datas e destas memórias seriam por si só inquietantes, mas, e de acordo com o que disse o dirigente do MPLA aos jornalistas, a Adalberto da Costa Júnior foi também transmitido: “Sentíamos que o actual presidente da UNITA não controlava a sua organização e dissemos-lhe que era um presidente a prazo porque não tinha o DNA da UNITA”.

O secretário do BP do MPLA para os Assuntos Políticos e Eleitorais revelou ainda que disse ao líder da UNITA que “não era avisado fazer publicações de falsas sondagens, que não tinham ficha técnica nem sustentabilidade” e que apontavam para um desempenho da UNITA muito vantajoso, o que poderia “criar a falsa imagem de que se a UNITA perder as eleições de 24 de Agosto seria devido a fraude ou que foram manipulados os resultados”.

João ‘Jú’ Martins lembrou que o MPLA ganhou as eleições em 1992, 2002, 2008 e 2017 graças ao “um árduo trabalho” e teve tempo para minimizar as questões dos mortos não expurgados das listas, dando mesmo como exemplo o caso português, e que isso nunca pôs em causa a democracia em Portugal – sendo que não explicou aos jornalistas, e não vinha ao caso, que sendo verdade que Portugal tem dificuldade em expurgar os números de mortos dos cadernos eleitorais, e com isso os números da abstenção, por exemplo, seriam ainda maiores dos que os que são actualmente, também é verdade que os partidos políticos portugueses não se queixam de forma tão persistente e insistente dos órgãos de comunicação social, em que têm tratamento equitativo, para darmos também aqui um exemplo, ao mesmo tempo que não teve em conta que foi o próprio ministro da Administração do Território a garantir que os mortos seriam expurgados.

Seja como for, podemos dizer que a conferência de imprensa de hoje do MPLA pode vir a marcar um antes e um depois nesta campanha eleitoral. E, claramente, parece-nos que o partido do poder está, como não se viu até agora, desafiante e desafiador, evocando de forma inequívocas todos os fantasmas da UNITA. Não por acaso, o PHA, de Bela Malaquias, é o partido que se segue sempre ao MPLA nos telejornais das duas principais estações de televisão públicas – TPA e TV Zimbo.

E ao décimo dia, a campanha eleitoral para as Eleições Gerais subiu de tom, num evidente confronto entre o partido do poder, o MPLA, e o partido da eventual alternância, a UNITA.

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