O Presidente João Lourenço foi a Saurimo, onde participou em mais um acto de massas do MPLA, e aí fez um balanço de tudo quanto o seu governo tem feito pela província da Lunda Sul, o maior polo de produção diamantífera do país. Falou de diamantes e da indústria diamantífera e estradas, caminhos-de-ferro, hospitais e maternidades.
O Presidente da República e presidente do MPLA falou do polo de desenvolvimento diamantífero de Saurimo, dos empregos criados, dos 20% dos diamantes lapidados localmente, enfim, uma miríade de bem-estar e oportunidades iniciadas no seu primeiro mandato que prosseguirá no segundo, porque, naturalmente, João Lourenço tem a convicção que “a vitória é certa” a 24 de Agosto.
E a propósito dos diamantes, ainda houve tempo para fazer uma referência mais ou menos velada a Isabel dos Santos e ao monopólio, no passado, da Sodiama, não só na produção como na comercialização.
O discurso foi longo, como tem sido todos, com uma multidão sujeita a um sol inclemente, mas tudo o disse o Presidente da República foi anulado pelas suas já habituais analogias tendo como referência a UNITA, o maior partido da oposição, o que é normal num contexto de (pré)campanha eleitoral.
O que talvez não seja não normal é transformar um galo negro em galo branco num golpe de ilusionismo, numa clara alusão ao tom da pele do actual líder da UNITA – mas como foi abundantemente aplaudido, significa que as alusões ao tom da pele dos adversários é um argumento de campanha para o MPLA.
Uns dias antes, as milícias digitais, os chamados trolls, publicaram até à exaustão imagens desta analogia, claramente de mau gosto, para incómodo de uns e regozijo de outros. Certamente saída do gabinete de Acção Psicológica – há que falar às massas com uma linguagem que as massas entendam – o golpe de “génio” de transformar o galo negro em galo branco a todos devem ter parecido, isso mesmo… um golpe de génio. E eis que o presidente o repete em Saurimo.
E falou de ilusionismo, não do seu gabinete de propaganda, mas dos outros. “Todas essas manobras dos nossos adversários, a última das quais é um toque de ilusionismo, porque conseguiram fazer de um galo negro um galo branco”, disse João Lourenço. E houve aplausos e gargalhadas.
“Portanto, ao longo de muitos anos, nós tínhamos na nossa mira um galo negro e, de repente, o galo negro desapareceu e aparece um galo branco”, prosseguiu João Lourenço.
E continuou dizendo que a oposição, a UNITA, podem ser bons ilusionistas e que algumas viagens que têm feito mais recentemente é para aprenderem ilusionismo, mas nada adiantará, porque depois “de um trabalho árduo”, haverá tempo para celebrar a vitória. E a vitória será celebrada com uma “cabidela”.
Depois do povo dar a vitória ao MPLA, em 24 de Agosto, “vamos comer uma boa cabidela”, repetiu João Lourenço, também porque não interessa se as penas do galo são pretas ou brancas, porque as penas do galo vão para o lixo.
João Lourenço foi a Saurimo cantar de galo explicando como se come um galo de cabidela, e ouviu “Lourenço, amigo, o povo está contigo!”.
E o João Lourenço continuou para explicar que o voto, em 24 de Agosto, é como o talão do restaurante que dá direito a um galo de cabidela. “O nosso voto é o nosso talão, que usamos para demonstrar que temos o direito a comer a cabidela”, disse o líder do MPLA.
Antes de cozinhar o galo de penas brancas ou pretas ou castanhas em cabidela, João Lourenço falou da oposição que sempre tentou derrotar o MPLA, primeiro pelas armas, durante 27 anos, e para isso até teve o “descaramento” de se associar ao regime de apartheid, depois por via eleitoral – o país já realizou quatro eleições gerais, vai acontecer a quinta e o MPLA continuará a sair como o vencedor, apesar da oposição ter percebido que não conseguia individualmente derrotar o MPLA e se tenha juntado.
“A nossa oposição concluiu que lutando individualmente contra o MPLA não ia chegar lá, então, entenderam juntar-se e praticamente esvaziaram alguns partidos – que também não são grande coisa” disse João Lourenço, que prosseguiu “e meterem todos na lista de candidatos a deputados de um único partido da oposição, convencidos que assim serão mais fortes, inventaram nomes, frente patriótica, que não conseguiram legalizar, e foram buscar dissidentes desse mesmo partido para engrossar as fileiras – um dissente que abandonou o partido há anos, andou a dar umas voltas com outros projectos, que não conseguiu concretizar, e agora volta ao sítio de onde nunca devia ter saído”.
Às voltas, João Lourenço refere-se a Abel Chivukuvuku, que saiu da UNITA para agora regressar ao Galo Negro, à frente patriótica, que não seria legalizada, e ainda a partidos como o Bloco Democrático, que se esvaziaram mas que também “não era lá grande coisa”.
O Presidente da República mantém o mesmo padrão nas suas intervenções em actos de pré-campanha: primeiro os feitos do seu governo, o muito que foi feito e o que ainda falta fazer no próximo mandato, faz ainda uma viagem pelo passado, para falar nas assimetrias coloniais ou nos danos provocados pela família dos Santos, e depois, o habitual ataque à Adalberto Costa Júnior, à UNITA e aos líderes da Frente Patriótica Unida.
E o tom da campanha do MPLA é, pelo menos por agora, este.