Inicia hoje o julgamento de Blaise Compaore acusado de assassinar Thomas Sankara
Na abertura do julgamento, Blaise Compaore e outras 13 pessoas envolvidas no caso enfrentaram uma série de acusações pela morte de Sankara, conhecido como sendo um carismático revolucionário descrito como o africano Che Guevara.
O julgamento que está a cargo do Tribunal Militar deixa insatisfeito os advogados de Compaore que pretendem “boicotar” os próximos processos do mesmo. Os advogados consideram que o tribunal militar é um tribunal excepcional que está fora da lei comum e acreditam que Compaore tem imunidade como ex-chefe de Estado.
Este é um tribunal político, simplesmente porque não é um tribunal de direito comum, não é o tribunal judicial ou o tribunal superior ou um tribunal criminal ou correcional com um júri que o julgará, é um tribunal militar, presidido por um magistrado rodeado de coronéis do exército. E isto é ainda mais chocante porque o Presidente Blaise Compaoré deveria gozar de imunidade devido ao seu cargo de ex-chefe de Estado previsto no artigo 168 da Constituição do Burkina Faso “, disse um dos advogados
Este julgamento que há muito é aguardado tem como a principal vitima o antigo e primeiro presidente de Burkina Faso desde a mudança de regime e de denominação do País. Thomas Sankara foi morto em 1987.
Entretanto, o único sobrevivente do assassinato e companheiro de Thomas Sankara, Halouné Traoré, explica como ele foi o único a sobreviver ao golpe de 1987 em que Sankara foi assassinado, junto com outras 12 pessoas.
“Tínhamos uma reunião marcada nesta sala por volta das 16h00. O camarada presidente chegou por último, estávamos esperando por ele aqui na sala de reuniões, e assim que ele chegou a reunião começou. Então começamos a reunião e como eu havia acabado de ser enviado ao Benin para uma missão, tive a palavra. Só tive tempo de dizer “Saí de Ouagadougou” e começar o meu relatório quando ouvimos tiros vindos de fora e alguém gritar num tom bastante forte: “Saia! saia! saia! “Então, após essas ordens, o camarada presidente se levantou, arrumou suas roupas e saiu assim, com as mãos para cima. Ele foi baleado à queima-roupa na entrada daquela sala.” Disse ele à AFP
Traoré espera que no julgamento “finalmente se diga a verdade” sobre o assassinato de Sankara, mas admite que não será capaz de restaurar “os sonhos de Burkina”.
A maior expectativa que tenho é que a verdade finalmente seja dita, a verdade de que um homem, um grupo de homens, e particularmente o presidente Thomas Sankara, foi assassinado por amar seu país. Se o julgamento nos permitir estabelecer essa verdade … . “.
Blaise Compaore durante muito tempo negou as suspeitas de ter organizado o assassinato de seu ex-companheiro de armas. mas durante seus longos anos no poder, a morte de Sankara sempre foi um tabu, tendo sido forçado a deixar o seu cargo em 2014 por uma revolta popular – após 27 anos no poder e fugiu para a Costa do Marfim, onde obteve a nacionalidade marfinense.