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A guerra na Ucrânia, combinada com as desvalorizações da moeda desencadeadas por aumentos nas taxas nos Estados Unidos e anos de má gestão económica, levaram a inflação no Malawi a uma taxa de 25%, Angola está no 20%.
O aumento dos bens alimentares disparou em todo o mundo, com eles os preços do combustível e dos fertilizantes, e as economias africanas, mais vulneráveis, estão particularmente expostas.
De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), até ao final deste ano, 30 milhões de africanos podem não ter condições de comprar gás para cozinharem os alimentos que comem.
O Banco Mundial também acrescenta o número de africanos que vivem em pobreza extrema, 424 milhões antes da pandemia da Covid-19, em 2019, passaram, este ano, para 463 milhões.
Muitas economias africanas foram particularmente atingidas pelo aumento global dos preços, porque os alimentos ocupam uma parcela maior do magro rendimento das famílias quando comparados com os rendimentos das família dos países desenvolvidos, o que coloca uma maior pressão inflacionista, ou seja, se uma família gasta mais de 50% do seu rendimento em alimentos, a tendência é para que o preço dos alimentos aumente ainda mais, o que condiciona o consumo de uma forma geral e acaba por ter peso nas economias.
Na Nigéria, a naira desvalorizou 25% em relação ao dólar desde o início deste ano e o custo dos combustíveis duplicou, o que leva as pessoas a recorrerem a energias mais baratas, mas mais sujas e mais poluentes, como o querosene ou o carvão. A inflação no país está nos 22%, com os consumidores a cortarem na carne e no peixe.
O maior produtor de petróleo africano, não tem beneficiado do aumento dos preços do barril do petróleo, dado que há um sub-investimento em infra-estruturas petrolíferas que tem custos na actual capacidade de produção – recorde-se que nos primeiros meses deste ano, Angola ultrapassou a Nigéria como o maior produtor de petróleo da África subsaariana.
Com a escassez de moeda estrangeira, muitas empresas aumentaram os preços para reflectir o aumento dos custos de importação. Ladi Delano, co-fundador da Moove, uma empresa nigeriana de financiamento de veículos, descreveu a situação como uma “tempestade perfeita”. “A crise do custo de vida tornou mais difícil para as pessoas economizarem”, disse Delano, e acrescentou que neste momento prescindiram na exigência de uma entrada na compra do automóvel para incentivarem as vendas.
Problemas semelhantes estão afectam a Etiópia, que além da questão económica, enfrenta o conflito no Tigray. Além da pressão inflacionista, o país começa a confrontar-se com a escassez de produtos importados como medicamentos e alimentos para bebés.
Os preços subiram cerca de 32% e o valor da moeda, o birr, caiu para 82 relativamente ao dólar no mercado informal, em Junho estava nos 60.
Os governos da África subsaariana não têm capacidade para produzir políticas públicas e apoios adequados às famílias, o fardo cai sobre os bancos centrais, mas também para eles não é fácil.
No Gana os preços subiram 31% e a moeda está também em queda. Acra aumentou nos últimos meses as taxas directoras ao ritmo mais agressivo dos últimos 20 anos. O banco central da Nigéria também aumento as taxas em 250 pontos base desde Maio.
Mas com o dólar continua a se valorizar à medida que os mercados antecipam novos aumentos das taxas da Federal Reserve dos Estados Unidos e os preços das commodities alimentares permanecem altos. Os economistas duvidam que no curto prazo se possa reverter o aumento da inflação.
O Malawi, sem litoral e dependente de importações, simboliza a fraqueza estrutural de muitas economias africanas. Em 2021, o país importou o dobro do que exportou, com gastos de 3 mil milhões de dólares em combustível e fertilizante. Entretanto, o país teve de recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI), com um pedido de empréstimo de 750 milhões de dólares.
E é neste contexto que o Presidente João Lourenço inicia o seu segundo mandato sem ter alcançado no primeiro uma das suas promessas do discurso inaugural, o de ser o Presidente do desenvolvimento.