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Um deputado iraniano afirmou, este domingo, que o Governo do Irão está a “prestar atenção às verdadeiras reivindicações do povo”, um dia depois do procurador-geral iraniano ter anunciado que a polícia da moralidade teria acabado.
A acontecer é um anúncio histórico, mas o governo iraniano não confirma a notícia. E a informação suscita demasiadas perguntas que continuam sem resposta, nomeadamente, que a suspensão da polícia da moralidade é uma extinção ou só um suspensão temporária para desanuviar a tensão que se vive em todo o país.
Uma acção da polícia da moralidade iraniana está na origem de meses de protestos no Irão, em que mais de 400 pessoas terão sido mortas e entre elas crianças.
A actividade da polícia da moralidade começou a ser questionada após a detenção de Masha Amini, 22 anos, por uso incorreto do véu islâmico e que morreu sob detenção.
A sua morte originou uma vaga de crescentes protestos e que culminaram em apelos para o derrube dos líderes religiosos do República islâmica.
No sábado, o procurador-geral Mohamed Jafar Montazeri revelou que a polícia da moralidade “foi encerrada”, indicou a agência noticiosa ISNA. A agência não forneceu detalhes e os ‘media’ estatais não se referiram a esta suposta decisão.
Em declarações divulgadas pela ISNA, o deputado Nezamoddin Mousavi referiu-se este domingo a uma abordagem menos conflituosa face aos protestos.
“O Governo e o parlamento insistiram que prestar atenção às reivindicações das pessoas, que são sobretudo económicas, é a melhor forma de garantir a estabilidade e enfrentar os tumultos”, disse, na sequência de um encontro à porta fechada com diversos responsáveis oficiais iranianos, incluindo o Presidente Ebrahim Raisi. Mousavi não se pronunciou sobre a dissolução da polícia da moralidade.
E a Associated Press (AP) não conseguiu confirmar o actual estatuto da força, estabelecida em 2005 com a tarefa de deter e questionar pessoas que violassem o código de vestuário islâmico em vigor.
Desde Setembro que diversos relatos indicam uma redução do número de polícias da moralidade nas cidades iranianas e um aumento do número de mulheres que surgem em público sem o véu islâmico, mesmo que ainda contrarie a lei iraniana.
O procurador-geral Montazeri não especificou sobre o futuro da polícia da moralidade, ou se a sua extinção era aplicável a nível nacional e de forma permanente. No entanto, acrescentou o sistema judiciário iraniano “continuará a examinar o comportamento a nível da comunidade”.
Na sexta-feira, a ISNA reproduziu declarações de Montazeri nas quais assegurou que o Governo estava a rever a lei obrigatória sobre o uso do hijab para as mulheres.
“Estamos a trabalhar rapidamente sobre a questão do hijab e a fazer o nosso melhor para garantir uma solução sensata para abordar este fenómeno que fere o coração de qualquer pessoa”, disse Montazeri, sem adiantar mais detalhes.
O anúncio de sábado poderá significar uma tentativa de apaziguar a população e encontrar uma forma para terminar com os protestos que, segundo organizações de direitos humanos, já provocaram a morte de pelo menos 470 pessoas.
Mais de 18.000 pessoas foram detidas nos protestos e na violenta repressão das forças de segurança, de acordo com o Human Rights Activists no Irão, um grupo que tem monitorizado as manifestações.