As detenções e buscas no clube estão relacionadas com o chamado Barçagate, que partiu de uma denúncia de um grupo de adeptos, cujo processo segue em segredo de justiça até 10 de Março, e, segundo a imprensa local, relaciona-se, entre outros, com uma campanha de difamação levada a cabo contra concorrentes da administração de Bartomeu.
Bartomeu, de 58 anos, foi presidente do “Barça” entre 2014 e 2020, com Carles Tusquets a sucedê-lo, de forma interina, a partir de Outubro do ano passado, após muita pressão de adeptos e até de atletas, como o futebolista argentino Lionel Messi, que ameaçou sair no Verão de 2020.
Mas vamos tentar perceber o que é o Barçagate. É um caso que tem na origem a contratação, pelo clube, de uma empresa para actuar nas redes sociais numauma campanha de difamação de particulares e entidades não relacionadas com a directoria de Josep Maria Bartomeu.
Na manhã de 17 de fevereiro, o SER Catalunya explicou que, desde o final de 2017, o Barça havia contratado a I3 Ventures, empresa do empresário argentino Carlos Ibáñez, que se dedicava a desacreditar, difamar e questionar, em pelo menos seis contas do Facebook, pessoas físicas e entidades ligadas ao Barça, como os jogadores como Leo Messi e Gerard Piqué.
De acordo com a informação, o clube teria pago um milhão de euros por ano à I3 Ventures pelo acompanhamento e defesa da reputação do presidente do clube, do conselho de administração e da marca nas redes sociais e as facturas teriam sido repartidas entre diferentes departamentos, com pagamento inferiores a 200 mil euros, de forma a evitar que tivessem de passar pelo conselho de administração.
Horas depois, o Barça emitiu comunicado negando a sua relação com os acontecimentos, embora admitisse que a empresa I3 Ventures era fornecedora do clube e se fosse confirmado que a empresa tinha qualquer ligação com as referidas contas do Facebook, o clube encerraria o contrato.
No dia seguinte o Barça anunciou a rescisão do contrato com a empresa de propriedade de Carlos Ibáñez.
Mas a informação provocou um terremoto na directoria de Bartomeu.Um grupo de executivos pediu explicações ao presidente do clube e exigiu a antecipação das eleições, previstas para 2021, e responsabilidades a Jaume Masferrer.
Bartomeu não concordou com a primeira das reivindicações, mas concordou com a segunda, suspendendo Masferrer do cargo e do pagamento do salário até a conclusão da auditoria externa para apurar o caso.
Um dia depois desta reunião, no sábado, 22, o Barça recebeu Eibar no Camp Nou e antes do início da partida houve um barulho e gritos de “renúncia de Bartomeu” de um sector significativo da arquibancada.
O El País publicou em 27 de Fevereiro que dezenas de contas falsas no Twitter de um banco de dados da Nicestream (a empresa-mãe da I3 Ventures, também de propriedade de Carlos Ibáñez) realizaram as mesmas práticas de difamação, incluindo jornalistas).
No dia 8 de Abril, Bartomeu pediu a demissão de quatro executivos que o haviam criticado nas semanas anteriores.
Um dia depois, os quatro renunciaram e se juntaram a Maria Teixidor, secretária e presidente da Comissão de Controle e Transparência, e Jordi Calsamiglia, chefe da área disciplinar e membro do Comité de Compliance. Todos contra Bartomeu.
Houve uma auditoria externa, e a PriceWaterHouseCoopers (PwC) chega à conclusão de que “nenhuma campanha difamatória” foi posta em prática, e também não verificou sinais de corrupção ou benefício económico de quem quer que seja.
Alejandra Gil, uma juíza de instrução do tribunal de Barcelona, teve de todo o processo um entendimento diferente.