Arlindo Sicato, antigo vice-ministro das Finanças
O antigo governante angolano fez estes comentários durante uma entrevista cedida ao Valor Económico, na passada terça-feira, dia 04 deste mês. Face às opções adoptadas, Arlindo Sicato considera haver falta de sensibilidade por parte dos governantes que acatam as exigências do FMI sem olhar para a realidade social da maioria dos angolanos.
“Uma coisa é estudarmos a teoria financeira ou económica no estrangeiro com recomendações possíveis do FMI, outra coisa é ajustar essas teorias à nossa realidade. O FMI orienta que devem ser suprimidos os subsídios aos combustíveis, à electricidade e á água. Qual é o nível de rendimento das famílias? É ali onde está o problema. E se agregarmos despesas com a educação e a saúde ninguém tem capacidade para tanto” disse Arlindo Sicato.
Visitando mitigar as dificuldades que as famílias vivenciam, o antigo governante apelou a “revitalização urgente de alguns sectores nacionais” que, segundo o mesmo, de alguma forma estão a ser negligenciados.
No caso da Agricultura, por exemplo, Arlindo Sicato considera que “estamos a transformar o campo com betão. Estamos a fazer palácios no campo. Em vez de nos dedicarmos à agricultura, dedicamo-nos mais ao turismo. Quando o indivíduo diz que tem uma fazenda, aquilo é mais uma vila turística para passar os fins-de-semana com amigos. Temos de ter aproveitamento rural como acontece lá fora. Aqui se temos o campo, o tractor não tem assistência, porque o operário não tem qualificação”, sublinhou.
Desemprego
Destacando a questão do desemprego e os valores exagerados na cesta básica, o antigo vice-ministro disse que não quer uma governação televisiva, mas sim uma governação prática. Lamentou o elevado número de pobreza e a taxa do desemprego que ronda aos 45% repartido entre os jovens dos 18 e 25 anos de idade.
“Veja que o nível de vida está a subir a cada dia… Se convertermos as riquezas naturais em activos que vão gerar fundos para financiar o sector produtivo, rapidamente poderemos ultrapassar essa situação. Se a exploração de diamantes, de ferro em Kassinga, ou mesmo a exploração do ouro no sul do país na Huíla e no Huambo, for feita de forma oficial com empresas que depois vão vender esse ouro a instituições do Estado, teremos grandes rendimentos…”, destacou Arlindo Sicato, que integrou o Governo em 1999 indicado pela UNITA, no quadro do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional.
O gestor de formação sugeriu ainda que o melhor para Angola seria a aposta nalgumas “riquezas naturais para que, com os recursos dali provenientes, investirmos na indústria. O que abunda aqui é o investimento no sector terciário, nos serviços. Compra aqui e vende ali. Isso não produz valor acrescentado. O que muda a vida das pessoas são os sectores que empregam mais pessoas até mesmo não qualificadas. Refiro-me à agricultura, à indústria e à construção civil. Aqui mesmo pessoas sem o ensino médio podem encontrar emprego. Na construção, para fazer massa, não é preciso ter muita qualificação académica”, apontou.