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Em Fevereiro de 2021, o grupo parlamentar da UNITA, quis ouvir o ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social e os responsáveis dos canais televisivos TPA e TV Zimbo, devido à cobertura noticiosa dada por estes meios relativamente aos incidentes de Cafunfo.
Em causa estava a garantia constitucional relativa à igualdade de tratamento pela imprensa e oposição democrática, que a UNITA entendia ter sido violada pela televisão pública de Angola (TPA) e TV Zimbo. “Entre outros factos, omitiram a posição da UNITA sobre o massacre de Cafunfo apresentada em comunicação do presidente Adalberto Costa Júnior e em conferências de imprensa do grupo parlamentar, além da visita dos deputados à vila mineira de Cafunfo, onde estiveram retidos por três dias sem uma referência nos órgãos em causa”, expressou o grupo parlamentar na altura. A proposta não passou pelo crivo do partido maioritário, o MPLA, e o ministro nunca prestou contas no parlamento.
Meses depois, em Setembro, numa decisão deveras polémica, os canais públicos de televisão angolanos TPA e TV Zimbo anunciaram que deixaria de cobrir atividades da UNITA, principal partido da oposição, justificando a decisão com agressões aos seus jornalistas numa manifestação convocada por aquele partido.
O posicionamento foi transmitido no horário nobre das duas estações televisivas estatais, com os respetivos pivôs a anunciarem a decisão das administrações dos dois órgãos de abandonarem a cobertura das atividades promovidas pela UNITA, não entrevistar os seus dirigentes, nem militantes ou outros responsáveis do partido e exigindo retração e desculpas públicas da direção da UNITA.
Mais tarde, o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, repudiou os actos de violência contra jornalistas durante uma manifestação da sociedade civil em Luanda, que teve o apoio da UNITA, assegurando que as ameaças não partiram da direcção na UNITA, ao mesmo tempo que se queixavam da exclusão de que o partido era alvo por parte dos órgãos estatais. Era e continua a ser.
Nenhuma das duas televisões mostrou interesse em entrevistar o novo presidente da UNITA eleito, primeiro, num congresso que decorreu em Novembro de 2019, que mais tarde seria anulado, e depois, confirmado no cargo num outro congresso em Dezembro de 2021.
Quem acompanha os órgãos de comunicação tutelados pelo Estado sabe que é mais fácil lermos na imprensa falada e escrita notícias que ponham em causa da UNITA do que notícias que deem simplesmente conta da actividade partidária do Galo Negro ou outros partidos.
Temos, por exemplo, que as actividades mais relevantes do Presidente da República ou do MPLA tem ampla cobertura de meios e de antena. Os congressos do MPLA, ordinários ou extraordinários, são acompanhados em directo pelas televisões de fio a pavio, por contraste com os congressos dos restantes partidos, arrumados em peças de telejornais de curta duração.
Daí que as queixas, ainda que mais insistentes por parte da UNITA, sejam extensíveis a todos os partidos da Oposição que, inclusive, já fizeram sobre o assunto um comunicado comum no início deste mês de Maio,
Mas na dúvida fiquemos com números recentes. O Telejornal da TPA, entre 12 e 14 de Maio, deu um esmagador tempo de antena ao Executivo e ao MPLA.
O mesmo se verifica quando é analisado o principal jornal da TV Zimbro, o jornal das 20:00, com o mesmo padrão, o Executivo domina o tempo do jornal, com valores que estão entre os 40% e os quase 80%, e o MPLA é o segundo tema a que se dá mais tempo de antena, nos dias analisados, a média é de 20% contra os 2% dados à UNITA.