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D. Belmiro Chissengueti diz que “ficar em silêncio” seria uma atitude “covarde” da Igreja Católica

O bispo de Cabinda, D. Belmiro Chissengueti, considera que o país atravessa uma “situação social galopantemente decadente” e que, por isso, seria “cobarde” se os máximos representantes da Igreja Católica em Angola ficassem em “silêncio” quando o povo sofre com a crise económica e os governantes não trazem soluções.

“Esse dito ambiente de crispação entre a Igreja e o Estado nós não o sentimos. Esse é um ambiente criado na mente de internautas, de pessoas que julgam que criticar determinada posição do Governo é estar contra o Governo”, sublinhou Belmiro Chissengueti, em declarações à agência portuguesa de notícias Lusa, recolhidas durante a recente visita do Presidente João Lourenço a Cabinda.

João Lourenço recebeu D. Belmiro Chissengueti, em audiência, durante a visita à província – audiência que o bispo considerou bastante positiva – depois da recente polémica, senão entre o Governo e a CEAST (Conferência Episcopal Angola e São Tomé), pelo menos entre certos sectores ligados ao MPLA e alguns dos bispos da congregação católica, e, entre eles, o bispo de Cabinda, tido como uma das figuras mais visíveis e activas na crítica ao que “não está bem” no país governado pelo MPLA há 46 anos.

A Igreja Católica vem insistido que mantém boas relações com o Governo, mas a verdade é que o Executivo de João Lourenço não parece estar a gostar muito das críticas públicas feitas pela CEAST em geral ou pelos bispos em particular.

Em Fevereiro, a CEAST pediu que fosse declarado o Estado de Emergência no país, devido “pobreza acentuada, perda de poder de compra, desemprego galopante e degradação de hábitos e costumes”, o que o Governo ignorou e muitos não gostaram de ouvir.

“Nós (os bispos católicos) queremos o maior bem da pátria, o maior bem do país. Não queremos ser aqueles que cobardemente fazem silêncio diante de uma situação social galopantemente decadente”, afirmou o bispo de Cabinda, salientando que é dever da Igreja apontar os males para que sejam corrigidos.

O presidente da CEAST, o arcebispo de Saurimo, D. José Manuel Imbamba, e também em Fevereiro, dizia existe um “divórcio entre governantes e o povo” e “um perigoso vazio de diálogo entre governantes e governados, entre as lideranças partidárias e entre os vários actores cívicos, elevando ainda mais os níveis de ansiedade, radicalismo, intolerância, indisciplina, violência física, verbal, moral e psicológica”.

“Nunca houve nenhuma crispação, nunca me foi negado um encontro com o governador, antes pelo contrário. Temos um diálogo permanente, a nível central também”, garantiu D. Belmiro Chissengueti, que é o porta-voz da CEAST, à Lusa. No entanto, prosseguiu, “o facto de não haver crispação, não quer dizer que concordemos com tudo o que é feito”, também porque é um dever da Igreja chamar a atenção para aquilo “que não está bem”.

E é também neste contexto que D. Belmiro Chissengueti admite que já foi alvo de críticas, mas que está “habituado a viver neste ambiente de polémicas” e que isso pouco lhe importa. “O certo é que digo o que penso, não sou nenhum bajulador que vive no mundo da imaginação, eu vivo do realismo”, fez questão de acentuar.

O bispo aproveitou a ocasião para acusar “os bajuladores que fazem o culto do chefe” e “têm uma capacidade de transumância incrível: há pouco tempo eram por José Eduardo dos Santos, agora por João Lourenço e não lhes custa nada mudar para um outro”. E transmitir a mensagem a João Lourenço para ter cuidado com esses bajuladores que só dizem o que chefe quer ouvir e escutar realmente as “figuras dissonantes” que criticam a governação: “É importante que quem dirige não se deixe levar pelo culto de personalidade, saiba sobretudo ouvir aquele que pensam diferente e que muitas vezes trazem muito mais verdade do que os bajuladores”.

Por isso, considerou que o Presidente João Lourenço “faz bem em encontrar-se com figuras dissonantes”, mais habilitadas para transmitir a realidade do país.

Desde que D. José Imbamba assumiu a presidência da CEAST, em Outubro do ano passado, que a Igreja Católica se tem notado mais audível nas suas intervenções públicas sobre o estado de Angola.

“Calcula-se que cerca de um terço dos angolanos está desempregado, sendo que a falta de trabalho afecta de forma brutal, com quase 60 por cento, os mais jovens”, afirmava em Fevereiro o arcebispo de Saurimo. Apelou ainda à valorização da mão-de-obra independentemente da sua origem, cor ou condição social. Para Belmiro Chissengueti, regionalismo, nepotismo, tribalismo, “são doenças que não permitem desenvolvimento”.

“É preciso lucidez para não sermos a causa da nossa própria desgraça. O grande mal é vivermos por cima de joias e passar fome”, afirmou o bispo de Cabinda, que pediu mais diálogo com as “forças vivas” da província, onde se mantêm activos movimentos separatistas que reivindicam a independência da região, idealmente através de “uma figura de consenso”.

Belmiro Chissengueti tomou posse em 7 de Outubro de 2018, como novo bispo da Diocese de Cabinda.

Conhecido por partilhar sem rodeios as suas opiniões nas redes sociais, mas também pelas homilias consagradas aos temas sociais.

Fonte: Lusa / Público / DW

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