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Protais Mpiranya, o criminoso de guerra mais procurado de África, pela sua participação no genocídio do Ruanda, em 1994, foi encontrado, ou o que resta dele, num cemitério de Harare, onde foi sepultado com um nome falso. Responsáveis das Nações Unidas, que lideraram as equipas que há décadas o procuravam, confirmaram, entretanto, que se trata de Mpiranya e que está efectivamente morto.
Mpiranya morreu de ataque cardíaco, numa altura em que estava também tuberculoso, em 2006, com 50 anos, estava indiciado por genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade, explicou Serge Brammertz, responsável pelo departamento da ONU que conduz os últimos processos de crimes internacionais decorrentes dos conflitos no Ruanda e na ex-Jugoslávia.
“Confirmar a sua morte, dá o consolo de saber que ele não pode causar mais danos”, disse Brammertz, sobre Mpiranya, e acrescentou que os resultados da investigação que dirige “também são um testemunho da busca incansável das Nações Unidas pela responsabilização de todos os que estão indiciados pelos crimes graves.”
Em 1994, a carnificina no Ruanda que levou à morte, em 100 dias, de mais de 800 mil tutsis e hutus moderados. Foi interrompida por um exército rebelde, a Frente Patriótica do Ruanda, liderado pelo actual presidente ruandês Paul Kagame.
Nessa altura, escaparam do país muitos dos militares que participaram no genocídio, que foram sendo procurados, durante anos, tanto pelo governo ruandês como pelas Nações Unidas.
Em 2020, em França, foi preso Félicien Kabuga, o suposto financiador da horda de assassinos no Ruanda, que apesar de ser um conflito de origem étnica, com maior incidência na morte de tutsis, também não poupou os hutus.
Kabuga aguarda em Haia o seu julgamento pelo Tribunal Internacional de Crimes de Guerra.
Em África, as Nações Unidas tiveram mais dificuldade em encontrar os criminosos, em muitos casos, por falta de colaboração das autoridades dos países onde os genocidas encontraram refúgio. Há ainda cinco fugitivos à justiça internacional que continuam sem ser encontrados, passados estes anos todos.
Sob o comando de Mpiranya, a guarda presidencial de então organizou o assassinato de figuras da oposição tutsi, assassinou o primeiro-ministro e trabalhou com a milícia Interahamwe para matar muitos outros.
Após a derrota dos genocidas, Mpiranya fugiu para Camarões e para a República Democrática do Congo (RDC), onde liderou uma brigada que combateu o governo de Kagame entre 1998 e 2002.
Durante a guerra, Mpiranya criou ligações com os militares do Zimbabué, que também intervieram no conflito, que acabariam por o proteger, não só a sua localização mas também a sua morte seus últimos anos foram “marcados pela ansiedade e pelo medo de ser descoberto”, disse o responsável das Nações Unidas pela captura dos criminosos de guerra. A família de Mpiranya continua no Zimbabué.