Em 2023, o desempenho do PIB brasileiro já havia surpreendido, registrando um crescimento de 2,9% e superando as expectativas dos analistas globais. Naquele ano, o BofA foi um dos primeiros a revisar suas estimativas para cima, ainda no primeiro semestre, ao identificar sinais de um crescimento mais acelerado do que o esperado.
Para 2024, o otimismo do BofA, segundo David Beker, chefe de economia para o Brasil e estratégia para a América Latina, em entrevista à Folha de S. Paulo, se baseia em diversos fatores que indicam um aumento na capacidade de crescimento do Brasil — o chamado PIB potencial. Beker explica que o PIB potencial representa o quanto uma economia pode crescer sem gerar inflação quando todos os recursos estão plenamente alocados.
Beker argumenta que a economia brasileira está em um momento de inflexão positiva, impulsionada por ganhos de produtividade e uma taxa de desemprego estrutural que não pressiona a inflação. Segundo ele, o PIB potencial brasileiro aumentou para 2,2%, comparado aos 1,7% da última década. A taxa de desemprego estrutural, que seria o nível de desemprego que não provoca inflação, foi estimada pelo BofA em 7,5%, valor que coincide com os dados mais recentes do IBGE de abril deste ano.
Essa nova avaliação é sustentada por evidências concretas: desde o fim da pandemia, os dados trimestrais têm superado consistentemente as expectativas, a inflação tem mostrado tendência de queda e o mercado de trabalho permanece resiliente. “Entendemos a fragilidade dessas projeções. Mas uma coisa é certa: o mercado tem sido surpreendido positivamente. Não é de hoje, já há vários trimestres”, pondera Beker, referindo-se ao desempenho econômico acima do esperado.
O crescimento de 0,8% no PIB do primeiro trimestre de 2024, divulgado recentemente, está alinhado com a previsão anual de 2,7% do BofA. Mesmo diante de desafios recentes, como a tragédia no Rio Grande do Sul, que trouxe riscos de baixa para a economia, a instituição mantém sua perspectiva otimista. David Beker ressalta que a projeção do BofA coloca o banco na “ponta otimista” do mercado. No entanto, ele acredita que a resiliência da economia brasileira e os ajustes estruturais positivos justificam essa posição.
A previsão do Bank of America também supera a do próprio governo brasileiro, que estima um crescimento de 2,5% para este ano.