Economia

As sanções do Ocidente à Rússia têm-se revelado pouco consequentes, mas a UE prepara novo pacote de sanções

Em dezembro, o Ocidente pôs o foco nas receitas do petróleo russo, desencadeando o maior pacote de sanções energéticas a um único país, mas não resultou.

A Europa tem vindo a conseguir libertar-se da dependência do petróleo da Rússia, mas, e ao mesmo tempo, a Rússia tem encontrado novos mercados e, de alguma forma, escapado às sanções impostas pelos países ocidentais.

Os países europeus sempre foram grandes compradores de petróleo bruto russo via marítima, mas proibiu a importação e também impediu que transportadores, credores e seguradoras europeias, há muito dominantes, facilitassem a venda de petróleo bruto russo a outros compradores – a menos que o petróleo fosse vendido abaixo de um “tecto de preço” de 60 dólares o barril estabelecido, valor estabelecido pelos países ocidentais.

Dois meses depois, e perante resultados muito pouco satisfatórios, surge uma segunda rodada de sanções europeias, sobre o diesel e outros produtos refinados, que deve entrar em vigor em 5 de Fevereiro, mas também agora não se esperam grandes resultados, adianta The Economist.

As sanções e o tecto no valor do barril do petróleo russo, imposto em Dezembro passado, não conseguiu conter as vendas de petróleo russo.

Depois de alguma contenção, enquanto as empresas europeias trabalhavam para fazer cumprir o novo tecto de preço – de 60 dólares por barril, os embarques de petróleo russo voltaram ao seu ritmo habitual, mas em vez se direccionados para os países europeus, seguiram novo rumo, mas a China e para a Índia.

As exportações de petróleo não refinado da Rússia foram a uma média de 3,7 milhões de barris por dia nas últimas quatro semanas até 29 de Janeiro. Este é o nível mais alto das exportações desde Junho e mais do que em qualquer período de quatro semanas em 2021. Ou seja, a Rússia só não continua a exportar, como exporta agora mais.

A verdade, é que ao impor um tecto ao petróleo proveniente da Rússia, os países ocidentais contavam com que o petróleo continuasse a fluir, o que tentava, no mesmo passo, era que o mercado global continuasse relativamente estável e que os lucros da Rússia com a venda do petróleo diminuíssem, também porque os custos dos fretes, dado que se tratam de distâncias mais longas, são mais elevados e a margem para a Rússia ficava ainda mais apertada.

E de certa forma tem funcionado, há uma clara diferença de preços entre o Brent de referência nos mercados internacionais e o petróleo bruto que vem dos Urais, na Rússia, com o petróleo russo a ser negociado com um desconto de cerca de 38%.

No entanto, o Ocidente deixou de perceber quanto petróleo russo é exportado, porque os indianos, por exemplo, não dão conta desses números, e depois as taxas de transportar petróleo da Rússia para a Ásia são definidas caso a caso, e não há uma estimativa exacta dos eventuais efeitos da medida, nem sequer sobre a sua eficácia, mas os analistas consideram que, muito provavelmente, as sanções impostas estão longe de surtir o efeito desejado.

Ainda assim, dados alfandegários da Índia e da China mostram que os dois países pagaram mais pelo petróleo dos Urais neste Inverno do que se pensa, além disso, todos têm interesse em fingir que os preços do petróleo são baixos.

E se a Europa está menos dependente do petróleo russo, a verdade é que a máquina de exportação da Rússia tornou-se menos dependente das infra-estruturas de transporte e financiamento do Ocidente e, portanto, escapa ao objectivo das sanções. Em Dezembro, mais da metade do petróleo da Rússia estava entregue as empresas europeias de transporte ou financiamento. Essa participação caiu para 36%.

Dito isto, o próximo lote de sanções, sobre o petróleo refinado russo, poderia causar mais danos?

À primeira vista, parece que poderiam conter as exportações russas de diesel e outros produtos no curto prazo. Logo a partir do dia 5 de Fevereiro, a Europa deixará de comprar esses produtos e sujeitará as companhias de navegação e seguros ao cumprimento de um preço máximo.

A Rússia não encontrará facilmente compradores para compensar a perda da procura: tanto a China como a Índia têm refinarias próprias.

E substituir os petroleiros de petróleo refinado da Europa será difícil. Uma parte dos produtos refinados russos, que respondem a um terço das receitas de exportação de petróleo do país, pode não ser vendida, elevando os preços globais. No entanto, com o tempo, esses efeitos tendem a desaparecer, prevêem os analistas.

Incapaz de vender petróleo refinado, a Rússia provavelmente aumentará a capacidade de exportar mais petróleo, dinamizando ainda mais o comércio clandestino.

Os europeus podem voltar-se para a China e para a Índia na procura de diesel, que será cada vez mais produzido a partir do petróleo bruto russo. À medida que mais petróleo russo fluir para fora do controle do Ocidente, os bloqueios tornar-se-ão ainda menos eficazes.

Para o Ocidente, a lição é que as sanções não substituem o envio de mais dinheiro e armas para a Ucrânia. Penalizar as exportações de petróleo da Rússia não vai fazer com que a Ucrânia ganha a guerra.

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