Em vez de saírem dos combustíveis fósseis e entrarem nas energias limpas, muitos países, e entre eles os mais ricos, estão a reinvestir no petróleo e no gás, e com isso vai ser mais difícil reduzir as emissões de carbono, ao mesmo tempo que estão a regatear a ajuda a enviar aos países pobres, numa altura em que o planeta atingiu um ponto de não retorno e em que o caos climático se torna irreversível.
Desde a cimeira do clima das Nações Unidas na Escócia, a COP26 em Glasgow, há 12 meses, que os países prometeram fazer apenas um quinquagésimo do que é necessário para manter as temperaturas dentro de 1,5°C dos níveis pré-industriais, sendo que nenhum continente conseguiu passar incólume aos desastres climáticos do último ano – desde inundações no Paquistão à onda de calor completamente inusitada na Europa, passando por devastadores incêndios nas florestas da Austrália ou a intensos furacões nos Estados Unidos –, tudo isto acentuados por temperaturas elevadas, cerca de 1,1°C..
E o mundo pode esperar por algo muito pior daqui em diante.
Enquanto muitos países procuram reduzir a sua dependência energética da Rússia, o mundo volta a experimentar uma espécie de “corrida ao ouro”, neste caso ao “ouro negro”, com novos projectos que envolvem os combustíveis fósseis.
Ainda que apresentadas como medidas temporárias, arriscam-se a causar danos irreversíveis ao planeta e revelam que a humanidade está longe de se libertar o seu vício dos combustíveis fósseis, esquecendo que se as energias renováveis fossem a norma, provavelmente, não estaríamos numa emergência climática.
E é quase certo que são as pessoas mais pobres do mundo que mais custos têm de suportar devido a secas extremas e ao degelo que põe em causa as suas colheitas. Para proteger estes grupos de uma maior perda de vidas e meios de subsistência, será necessário dinheiro.
Os países em desenvolvimento, diz o mais recente relatório das Nações Unidas, precisam de mais de dois mil milhões de dólares anuais em medidas de apoio à redução da emissão de gases de efeito estufa e para enfrentar a ruptura climatérica.
Os países ricos representam hoje apenas uma em cada oito pessoas no mundo, mas são responsáveis por metade dos gases de efeito estufa.
Estes países têm a clara responsabilidade moral de ajudar. E as nações mais ricas pouco têm feito, e menos ainda vão fazer quando se aproxima uma recessão à escala global.
Os países mais ricos e com maiores responsabilidades deviam, no mínimo, cumprir a promessa de manter o fluxo dos fundos previamente acordados, e falamos de 100 mil milhões de dólares por ano a partir de 2020. E isto não tem estado a ser feito e bastava que fosse feito para se mostrar alguma seriedade na forma como se lida com esta questão.
Deve ser decretado um imposto sobre os lucros combinados das maiores empresas de petróleo e gás — estimados em quase 100 mil milhões de dólares nos primeiros três meses deste ano – como medida para apoiar um esforço que tem de ser de todos.
As Nações Unidas têm razão quando apelam para que o dinheiro seja usado para apoiar os mais vulneráveis, sendo que essa taxa seria apenas o começo.
As nações pobres também têm dívidas que impossibilitam a recuperação após as catástrofes relacionadas com o clima ou que lhes permitiram criar mecanismos que as protejam perante futuras catástrofes. Os credores deveriam ser generosos e anularem os empréstimos daqueles que se encontram na linha da frente da emergência climática.
Estas medidas não precisam de esperar por uma acção internacional coordenada. Os países poderiam aplicá-las a nível regional ou nacional. As emissões acumuladas por cada país devem ser a base da sua responsabilidade, da sua necessidade agir. Embora o financiamento privado possa ajudar, o ónus de aplicar o dinheiro pertence aos grandes emissores históricos.
Resolver esta crise é a viagem à Lua do nosso tempo. Chegar à Lua foi um objectivo conseguido com sucesso na década em que foi tentado porque lhe foram atribuídos enormes recursos.
Um compromisso semelhante é agora necessário, ainda mais quando a crise económica reduziu a apetência dos países mais ricos para este tipo de despesas relacionadas com a emergência climática e quando o planeta corre o risco de ficar na dependência dos combustíveis fósseis, algo de que se vinha libertando, e condicionado pela acção na retaguarda das grandes empresas do sector energético.
Durante a pandemia da covid-19, os bancos centrais de todo o mundo tomaram medidas para apoiarem as despesas do Estados, comprando as obrigações dos seus próprios governos. Os biliões de dólares necessários para lidar com a emergência ecológica exigem o mesmo modo radical de pensar e agir.
Não há tempo para a apatia ou complacência; a urgência do momento está sobre nós. A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP) deve ser sobre o poder dos argumentos e não sobre os argumentos do poder.
A chave para manter o consenso no Egipto é não deixar que as disputas sobre o comércio e a guerra na Ucrânia bloqueiem a diplomacia climática global. O processo da ONU pode não ser perfeito, mas forneceu às nações um objectivo para salvar o planeta, que deve ser perseguido na COP27 para afastar um risco existencial para a humanidade.
Lista de parceiros dos meios de comunicação social:
Camunda News, Angola
National Observer, Canadá
El Espectador, Colômbia
Politiken, Dinamarca
Libération, França
Mediapart, França
Efimerida ton Syntakton, Grécia
Kathimerini, Grécia
Protagon, Grécia
Telex, Hungria
The Hindu, Índia
Tempo, Indonésia
Irish Examiner, Irlanda
Irish Independent, Irlanda
Haaretz, Israel
La Repubblica, Itália
The Gleaner, Jamaica
Macaranga, Malásia
Reforma, México
Centre for Journalism Innovation & Development, Nigéria
Rappler, Filipinas
Gazeta Wyborcza, Polónia
Público, Portugal
Mail & Guardian, África do Sul
elDiario.es, Espanha
T&T Guardian, Trindade e Tobago
Daily Mirror, Reino Unido
The Guardian, Reino Unido
Covering Climate Now, EUA
Miami Herald, EUA
The Nation, EUA
Rolling Stone, EUA
The Environmental Reporting Collective, International
Pacific Environment Weekly, Pacífico