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Adalberto Costa Júnior surpreendeu na abertura da nova legislatura, dizendo que nunca falou em fraude

“Com fraude ou sem fraude vamos ganhar as eleições”, ouvimos vezes sem conta durante a campanha eleitoral nos actos de massas da UNITA,

Mas UNITA não ganhou (pelo menos de acordo os resultados oficiais). Quanto à fraude, e sem a confrontação ou publicação integral das actas-síntese, a suspeição paira no ar. Houve fraude, é pelo menos essa a convicção de largos sectores da opinião pública angolana. Também por isso, as declarações do líder da UNITA foram surpreendentes ou mesmos extemporâneas.

A UNITA, enquanto partido e com Adalberto Costa Júnior na liderança, tem-se mostrado um partido ágil, que sabe ler os sinais do tempo e capaz de criar empatia com os jovens e os mais desfavorecidos, deixados para trás, na pobreza e no desemprego, por anos e anos de governação do MPLA.

Por tudo isto, nada explica este erro básico de comunicação do presidente da UNITA. Um político tem de saber o exacto peso das palavras, ainda por cima, um político que domina a linguagem. O que Adalberto Costa Júnior fez isso, além de uma óbvia “gaffe” política, foi, no mesmo passo, revelar as suas contradições e incoerências, nomeadamente, anunciar no mesmo dia que os seus deputados vão tomar posse e agir dentro das instituições, e, ao mesmo tempo, anunciar uma manifestação de protesto contra, justamente, instituições do Estado, no caso a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) e o Tribunal Constitucional.

E se na verdade o líder do Galo Negro considera que houve denegação de Justiça, também tem de admitir que a fraude, antes e durante, foi um dos temas da campanha eleitoral propalado por si próprio e pelo partido que lidera.

Basta fazer uma rápida passagem pela sua página do Facebook, podemos ler que Adalberto Costa Júnior escreveu, em 29 de Junho,

“o Governo já manipulou os cadernos eleitorais. O acto eleitoral pede a nossa vigilância. A forma como o governo quer contar os votos exige a indignação de todos. Faltam 56 dias para sentirmos a mudança ou sentirmos a fraude do costume. Merecemos eleições limpas”.

Mais recentemente, em 2 de Setembro, escreveu:

“O Tribunal Constitucional é composto por angolanos como nós. Cabe aos juízes decidirem como ficarão na história. Responsáveis por uma fraude, que altera os resultados eleitorais, ou os que escolheram a democracia, a honestidade e a vontade da maioria dos seus irmãos angolanos”.

Dito isto, é com estranheza que lemos que o líder da UNITA diz que nunca falou em fraude eleitoral e acusa tribunais de fugir à justiça.

Adalberto Costa Júnior afirmou, esta sexta-feira, que nunca falou em fraude a propósito das eleições, mas sim de desvio às leis, e acusou os tribunais angolanos de fugirem à justiça.

O cabeça-de-lista da UNITA às eleições gerais do passado dia 24 de Agosto, que hoje assumiu o lugar de deputado, disse aos jornalistas, à chegada à Assembleia Nacional, que espera que esta legislatura vá ao encontro daquilo que é a vontade dos angolanos.

“O que nós esperamos é que independentemente de quem seja – MPLA, UNITA ou outros partidos – tenham a coragem de devolver a soberania a quem a tem, o povo, que deixou uma mensagem muito clara sobre a sua vontade”, disse o dirigente político.

A UNITA saiu derrotada nas eleições gerais, mas conquistou o maior número de mandatos de sempre, elegendo 90 deputados, enquanto o MPLA reduziu o número de assentos de 150 para 124.

“Os angolanos demonstraram nestas eleições que queriam fazer a mudança de regime, que querem reformas, que o desenvolvimento só se faz com liberdade e com justiça independente, com as autarquias e poder local”, comentou o presidente da UNITA, esperando “uma Angola menos partidária de mais integração e mais desenvolvimento”.

Insistiu, por outro lado, que a UNITA participou em eleições “que não foram correctas, não foram transparentes” o que, alegou, foi confirmando pelos “observadores internacionais que aqui estiveram presentes pela primeira vez, incluindo os africanos que [?] não consideraram as eleições livres, justas e transparentes”.

“Desde o período da pré-campanha, até ao momento, nós falámos sempre de desvio às leis, desrespeito à Constituição, nunca falámos de fraude, falámos de provas. Infelizmente e os tribunais angolanos fogem da justiça e do direito”, disse ainda Adalberto da Costa Júnior.

“É importante que os jornalistas angolanos saibam disto, que os relatórios dos observadores entenderam que estas eleições foram marcadas por violações à lei, nessa medida não podemos premiar o desvio ao direito”, acrescentou o líder do partido do “Galo Negro”

Justificou ainda que a tomada de posse dos deputados da UNITA — que não foi consensual no partido e entre os seus apoiantes da sociedade civil — se deve ao facto de terem a responsabilidade de “trazer o nosso contributo para trazer Angola à democracia plena e ao Estado de direito democrático”.

Quanto às prioridades da UNITA nesta legislatura é dar resposta aos desafios das reformas, o dirigente foi taxativo: “precisamos de rever a Constituição, precisamos de eleição direta do Presidente da República e de não retardar o poder local”.

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