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“Estávamos todos de acordo (PR, Governo e Banco de Portugal) quanto ao que era preciso fazer”, lembrou o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, relatando como António Costa e Carlos Costa, que hoje se digladiam na praça pública, acompanharam uma tentativa de acordo que evitasse problemas diplomáticos com Angola. O acordo falhou.
Marcelo garante que “em nenhum momento algum dos intervenientes jamais pensou deixar de aplicar a lei que era desfavorável a Isabel dos Santos”.
Ainda que sem comentar a guerra aberta entre o primeiro-ministro e o ex-Governador do Banco de Portugal, com acusações graves e ameaças de processos judiciais, o Presidente da República defendeu o primeiro-ministro português, reconhecendo que “a intervenção” do governo liderado por António Costa no caso BPI, tendo sido “ostensiva”, “era a única maneira de resolver o problema”.
“O Banco de Portugal, por si só, não tinha solução”, acrescentou o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
Marcelo assumiu que, ele próprio, como Presidente, teve que acompanhar todo o processo (“o que não é normal”) e relatou como “todos” acompanharam – ele próprio, Governo e Governador do BdP – uma tentativa de acordo que permitisse retirar Isabel dos Santos do BPI deixando que a mesma “assumisse uma posição de gestão no BIC”.
“Estávamos todos de acordo quanto ao que era preciso fazer”, afirmou o Presidente. E o que era preciso fazer? Primeiro: “o que o BCE exigia, que se desbloqueassem os estatutos do BPI, o que significava um sacrifício dos interesses da engenheira Isabel dos Santos”. Segundo: “Podia ter sido aplicado um acordo (…) que estava a ser laboriosamente construído (…)”, mas, perante a posição do BCE, “que não reconhecia idoneidade a Isabel dos Santos), esse acordo que permitiria que a empresária angolana assumisse uma posição de gestão no BIC não foi possível. Terceiro: “É evidente que isso teve custos no relacionamento de Portugal com o Estado de Angola”.
Marcelo foi claro a envolver Carlos Costa em todo o processo, nomeadamente quando disse que a tentativa de acordo com Isabel dos Santos “foi laboriosamente construído, em diálogo entre o Governo, acionistas angolanos e espanhóis e o Governador do BdP”.
Ele próprio, assumiu o Presidente, “ía acompanhando”, uma vez que se “tinha atravessado” na promulgação do decreto que permitiu ‘desblindar’ os estatutos do BPI e abrir a porta à saída da acionista angolana, como exigia o Banco Central Europeu.
“Acho que em nenhum momento alguns dos intervenientes neste processo [e o Presidente falou sempre do Governo, do Governador do Banco de Portugal e dele próprio] jamais pensou deixar de aplicar a lei que era desfavorável a Isabel dos Santos”, concluiu o PR. E assim contrariou a tese de Carlos Costa, o ex-Governador do BdP, que no livro “O Governador”, lançado esta terça-feira, acusou o primeiro-ministro de lhe ter telefonado aconselhando que Isabel dos Santos fosse tratada com algum cuidado por ser “filha do Presidente de um país amigo”.
Marcelo Rebelo de Sousa confirma que houve atenção à questão diplomática. Mas nega que alguma vez sido posto em causa a defesa “do interesse nacional”, seja como for, Marcelo Rebelo de Sousa, que hoje é próximo do Presidente João Lourenço, assumiu que as relações entre Angola e Portugal, a partir destes acontecimentos, e até ao fim da presidência de José Eduardo dos Santos, ficaram mais difíceis.