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Tchizé dos Santos explica ao deputado João Pinto o Processo de Bolonha

Tchizé dos Santos, a viver fora de Angola praticamente desde que o Presidente João Lourenço chegou ao poder e substituiu, no Palácio da Cidade Alta, o pai, o presidente José Eduardo dos Santos, continua a comentar a actualidade política angolana como se cá nunca tivesse saído ao seu jeito informal e sem papas na língua.

O mais recente comentário da ex-deputada do MPLA é para o ainda deputado do MPLA João Pinto, a quem trata por “meu amigo”, e a quem aconselha a consultar os académicos portugueses, “os seus mentores” como diz, para que lhe expliquem o que o chamado Processo de Bolonha, de que Portugal é um dos países signatários, alterou no sistema de ensino superior português.

Nos dias de hoje, em Portugal, ainda há diferenças entre os que se licenciaram pré e pós Bolonha, é um facto, e que o grau de bacharel (pré-Bolonha) de ontem tem hoje o equivalente a uma licenciatura (pós Bolonha).

E que também não é preciso estar inscrito na Ordem dos Engenheiros em Portugal para se ser engenheiro, ou seja, não é a inscrição na Ordem que determina o grau académico, ainda para mais, como é o caso de Costa Júnior, não exercendo a profissão, por que, e desde quase sempre, a sua principal actividade tem sido a política.

Tchizé dos Santos dá mesmo o exemplo de um amigo português que tendo em tempos o curso de regente técnico agrícola de uma escola superior agrária passou, anos depois, por equivalência, a engenheiro agrícola, e que estes exemplos se multiplicam em Portugal é outro facto. A antiga deputada do MPLA avança que em muitos casos os cinco anos do curso pré-Bolonha deram lugar ao título de mestre, no que é já uma simplificação excessiva.

Seja como for, Tchizé dos Santos faz a defesa de Costa Júnior pondo em causa o seu antigo correligionário na bancada do MPLA.

Diz ainda Tchizé dos Santos que “Portugal tem uma formação tão boa, tão boa, tão boa” que os bacharéis pré-Bolonha são reconhecidos como licenciados na maioria dos países europeus, concretamente em 29 países, com a criação de um espaço europeu de ensino superior em que graduados e pessoal especializado, que trabalham em áreas do ensino superior, possam beneficiar de total mobilidade e acesso equitativo nos diversos países.

O caso voltou a ser notícia com um artigo da revista portuguesa Sábado, na sua última edição. O assunto foi seguido pela agência de notícias portuguesa Lusa, em Luanda e em Lisboa, que solicitou ao Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) informação sobre a frequência e obtenção do grau académico do presidente da UNITA, sendo que o ISEP tem na sua página, há anos, Adalberto Costa Júnior como um dos seus alunos de mérito, ou seja, personalidade de referência, que confirmou a nota final (11 valores) e o grau académico de Adalberto Costa Júnior.

Entretanto, Carlos Alberto, o jornalista e director de o portal A Denúncia, como assina, e que foi um dos primeiros a lançar a suspeita sobre a licenciatura de Adalberto Costa Júnior, escreve no Facebook: “A denúncia que fiz em 2019 é: o senhor Adalberto Costa Júnior MENTIU que é engenheiro electrotécnico pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP). Mentiu também que é licenciado em Ética na Itália (quando representou a UNITA no Vaticano). ACJ sempre assumiu que tinha 2 licenciaturas. Mentiu que foi militar, fez negócios com o MPLA para estar a ganhar na Caixa Social das FAA como general, quando nunca teve carreira militar.”

No essencial, o que está em causa não é se líder da UNITA tem ou não uma licenciatura, o que está em causa é o carácter do líder da UNITA. Carlos Alberto escreve: “Nunca esteve em causa o facto de não ser formado, mas sim a DESONESTIDADE (coloco em letras maiúsculas porque muitos têm problemas em perceber português)” e acrescenta: “Este sempre foi o ponto da minha denúncia.”

Percebemos então que para o “jornalista” Carlos Alberto não estão em causa os factos mas a opinião que tem de Adalberto da Costa Júnior, do carácter do líder da UNITA, e daquilo que chama “autoridade moral” (em maiúsculas). Isto é, o “jornalista” que não faz jornalismo sente que tem autoridade moral para falar de autoridade moral.

E também por isso escreve: “Ontem, a LUSA escreveu, SEM PROVAS, e os fanáticos nem sequer perceberam que o artigo da LUSA é contraditório (é engenheiro electrotécnico, sendo BACHAREL, concluiu a LICENCIATURA com 11 valores, muito estranho!)”. E prossegue: “E se era um “não assunto”, por que a LUSA vem “acudir” Adalberto Costa Júnior agora?”.

Vejamos: Carlos Alberto escreve que a Lusa, sem provas, para, e sem provas, dizer que a agência de notícias portuguesa vem “acudir” o presidente da UNITA?

“Se eu denunciei em 2019, por que a LUSA só foi buscar ALEGADAMENTE resposta do ISEP agora em campanha eleitoral e logo depois da publicação da Revista SÁBADO, que diz que o ISEP respondeu que Adalberto Costa Júnior NÃO CONCLUIU A FORMAÇÃO de engenharia electrotécnica?”.

Também aqui percebemos que Carlos Alberto se sente, no mínimo, entristecido por a Lusa ter dado credibilidade a uma notícia da revista Sábado e não à sua denúncia, em 2919.

Para terminar, escreve: “Aguardemos os resultados da investigação do Portal A DENÚNCIA que também tem fontes no ISEP e lanço um desafio a todos os órgãos de comunicação social angolanos e estrangeiros a fazerem uma investigação para se apurar A VERDADE. Há gato escondido com rabo de fora.”

A subtileza da sua linguagem não nos deixa concluir de forma clara a que “gato” se refere Carlos Alberto.

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