O Presidente João Lourenço, na sua mensagem, diz que está certo que a escolha da Alteza “será crucial para que seja dada continuidade às políticas bem-sucedidas desenvolvidas pelo seu antecessor, com vista a que, sob sua liderança, os Emirados Árabes Unidos sigam na senda da modernidade e progresso alcançados nas últimas décadas em todos os domínios fundamentais da vida nacional”.
E quem é o novo presidente dos Emirados Árabes Unidos, nomeado e não eleito?
O xeque Mohammed bin Zayed Al Nahyan raramente fala em público, evita mesmo as reuniões de cúpula das Nações Unidas, em Nova Iorque. Nada do que nos chegam dos seus pensamentos sobre o seu país e o mundo é por via directa.
Mas “MzB”, como é conhecido, é uma figura com uma inegável influência no mundo, quer pela sua ligação, de longa data aos militares dos Estados Unidos e a Israel, quer pela sua oposição aos islamitas.
Os Emirados Árabes Unidos são um país recente, não mais de 50 anos, capaz de converter lugares perdidos no deserto em cidades feéricos de arranha-céus, tudo isto através de um poder autocrático, naturalmente.
O país está atolado numa guerra devastadora e sem fim à vista com o Iémen, e se “MbZ” está próximo dos militares norte-americanos, não quer dizer que esteja próximo da Casa Branca – mesmo que a vice-presidente Kamala Harris esteja presente nas exéquias fúnebres do seu antecessor – que olha desconfiada para a sua proximidade com a China e com a Rússia, uma gestão complicada a que se junta uma relação ambivalente com o Irão, outra potência nuclear.
E nada disto é novo, uma vez que não é de hoje que o xeque Mohammed é o líder do país, informalmente é-o desde 2014, quando o xeque Khalifa desapareceu do domínio público devido a doença – ainda que aparecer em público não seja uma característica dos autocratas do Golfo, salvo alguma excepções, como é o caso do príncipe saudita Mohammad bin Salman “MbS”, e nem sempre pelas melhores razões.
De acordo com um antigo diploma norte-americano que esteve colocado na região, “MbZ é não apenas um líder dos Emirados Árabes Unidos mas, e de forma mais ampla, do Médio Oriente, onde é visto como um membro particularmente dinâmico de uma geração que sucedeu a líderes geriátricos”. “MbZ” é relativamente jovem, tem 61 anos.
O novo líder recebeu formação na Real Academia Militar de Inglaterra, em Sandhurst e fala fluentemente inglês. Não por acaso, a sua forte ligação aos militares norte-americanos. Calcula-se que 3.500 soldados dos Estados Unidos estejam estacionados no EAU, e que o porto de Jebel Ali, no Dubai, é o porto de escala mais movimentado da Marinha dos Estados Unidos foram do território norte-americano.
A base área de Al-Dhafra, no Abu Dhabi, tem drones e caças norte-americanos que bombardearam o Estado Islâmico no Iraque e na Síria. As baterias de Patriot, os mísseis norte-americanos, protegem a capital do ataque dos rebeldes houthis do Iémen. Os EAU apoiaram os Estados Unidos no 11 de Setembro de 2001, apesar de dois dos terroristas terem saído do emirado.
Após a Primavera Árabe de 2011, o xeque Mohammed liderou a repressão aos membros do Islah, um grupo que desafia o domínio hereditário dos sete xeques dos Emirados Árabes Unidos, onde partidos políticos e sindicatos continuam ilegais. Os EAU são ainda acusados de usarem spyware para monitorar activistas e dissidentes.
Barack Obama descreveu, na sua recente autobiografia, o xeque Mohammed como “jovem, sofisticado… e talvez o líder mais experiente do Golfo.
Mas o xeque Mohammad tem tido posições que nem sempre são coincidentes com as de Washington. Criticou o apoio que os norte-americanos deram aos protestos de 2011, que levaram ao derrube de Hosni Mubarak, no Egipto, e apoiaram o golpe de 2013 que levou o general egípcio Abdel Fattah el-Sissi ao poder.
Também não é muito clara a posição dos EAU relativamente ao Irão, claramente um antagonista, porque os iranianos apoiam os rebeldes do Iémen, mas também aqui há muita ambiguidade diplomática.
E tanto o Dubai como os Emirados continuam abertos aos russos mesmo depois da invasão da Ucrânia. Enquanto tudo isto, ainda tem tempo para estreitar laços com a China.
Aqui e ali, o xeque Mohammed faz opções menos avisadas, e acabou por ser envolvido no relatório do procurador especial norte-americano Robert Muller sobre a relação de Donald Trump com os russos, que alegadamente conspiraram para colocar Trump no poder em 2017.
Mas como “MbZ” terá dito um dia: “toda a decisão tem riscos, sem dúvida”.
Fonte: Associated Press (AP)