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Presidente João Lourenço com uma agenda intensa e a TPA e TV Zimbo sempre presentes

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“A nossa realidade demonstra que uma parte significativa de pessoas no continente africano não tem acesso à electricidade nem a nenhuma outra forma de energia moderna para uso doméstico, implicando assim a necessidade da criação do mercado africano capaz de absorver uma fatia maior do petróleo e gás que a África produz”, disse o Presidente da República no discurso de abertura da 8.ª edição do Congresso e Exposição Africano de Petróleo e Gás (CAPE VIII), palavras relevantes devidamente documentadas pelas televisão públicas, a TPA, que tem essa função, e a TV Zimbro entregue ao Estado, num processo que demoraria meses até à privatização, mas que, e passados um par de anos, teima em ser tutelada pelo Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS).

Se juntarmos às duas estações de televisão públicas, o Centro de Imprensa da Presidência da República (CIPRA) que dispõe de meios para funcionar como uma terceira estação de televisão, temos que há uma evidente desproporção no tratamento noticioso entre as actividades do Presidente da República e do partido que o apoia e os restantes partidos da oposição.

Por estes dias, Reginaldo Silva, antigo jornalista e actual membro da ERCA, a Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana, escrevia no Facebook:

Se tivéssemos que resumir a cobertura da actividade político-partidária que a TPA fez no seu jornal da noite deste domingo ficaria assim ilustrada…

Não contei o tempo dedicado ao MPLA, uma verdadeira eternidade em televisão, mas as três peças que resumiram a actividade do PRS, CASA-CE e UNITA não ultrapassaram os 5 minutos.

Foi mais fácil contar o tempo dado a Oposição porque as três peças foram apresentadas na mesma sequência.

Estavam encavalitadas. Foi sempre a aviar…

O Centro de Investigação do Instituto Sol Nascente continua a monitorar o principal serviço noticioso da Televisão Pública de Angola (TPA) e confirma, justamente, a percepção que as pessoas vão tendo do que é o conceito de notícia para os órgãos públicos de televisão angolanos.

Todos sabemos que o conceito de notícia é aberto, surge de um processo de manipulação que obedece não só a técnicas como a ética, o momento fundamental desse processo é quando alguém que tem poder define o que é notícia.

Nos regimes liberais, essa actividade é da exclusiva competência das hierarquias dos órgãos de comunicação social, e esse conceito é amplo, vai desde o partido do poder aos partidos da oposição, e não raras vezes é dado mais espaço aos partidos da oposição para reagirem às medidas anunciadas pelo governo e/ou pelo partido do poder.

Nos regimes iliberais, como por exemplo a Hungria, o primeiro-ministro Viktor Orbán, que foi reeleito recentemente para um quarto mandato, com o seu partido, o Fidesz, a obter 53% dos votos em eleições legislativas, acabou com a chamada imprensa independente. Aliás, os observadores internacionais que acompanharam as eleições húngaras não deixaram de referir a desigualdade do tratamento noticioso entre o partido do poder e os partidos da oposição.

Temos então que o caso de Angola não é único, mas que essa disparidade no tratamento noticioso entre o partido do poder e os restantes partidos da oposição reflecte a natureza do regime em vésperas de eleições gerais.

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