Economia

“A corrupção em Angola saiu da clandestinidade nos últimos três anos”

“Angola não é o país mais corrupto do mundo”, começa por nos dizer a socióloga, que admite que o país onde nasceu “tem graves problemas de corrupção, endémica e sistémica”, que, e de acordo com a literatura sobre o assunto, Angola sobre da chamada “maldição dos recursos”, que se traduz numa enorme desigualdade entre o que o país produz e o bem-estar das populações.

Karina de Carvalho considera que o Governo angolano, por si só, não é capaz de resolverem os problemas da corrupção endémica no país porque o Estado “está capturado por interesses privados” e por isso mesmo “têm de ser os cidadãos angolanos a tomarem as rédeas do combate à corrupção, fiscalizando a implementação de políticas anti-corrupção e a fiscalizarem o enriquecimento ilícito ou injustificado de cargos públicos”. “O esforço tem de ser colectivo e passa também pelas empresas”. “A corrupção é um entrave ao desenvolvimento”, diz a socióloga e nisso concorda com o que tem dito o Presidente angolano.

A socióloga considera, ainda, que “o facto de o Presidente João Lourenço fazer do combate à corrupção uma prioridade do seu governo é muito positivo”, no entanto, o combate está longe de estar ganho porque o Estado está capturado. “Não há separação entre a política e os negócios, onde é que começa o Estado e acaba o partido, ou onde acaba Estado e começa a Sonangol, que tem braços para todos os sectores da economia angolana”, diz, e “foi assim com Manuel Vicente e foi assim com Isabel dos Santos”.

“Não se vai conseguir fazer o combate a corrupção em Angola em dois os três anos” e, entretanto, o país deve concentrar-se em “reforçar a integridade das instituições e da transparência dos processos”.

Karina de Carvalho sublinha que em Angola existe separação de poderes, entre o poder político e o poder judicial, ainda que haja algumas questões que lançam algum alarme, mas o que observa é falta de meios e uma enorme lentidão dos processos. Posto isto adverte que há uma narrativa que considera “perigosa” e que está a ser usada por cleptocratas como Isabel dos Santos, ou seja, o discurso da politização da justiça serve num sentido e noutro. O mais importante, diz a socióloga, é que as pessoas deixaram de ser tolerantes com a corrupção. Todos os partidos políticos angolanos se declaram favoráveis ao combate à corrupção, mas para Karina de Carvalho o assunto está muito para além dos agentes políticos, é um combate de toda a sociedade.

“O mindset do país mudou, não só relativamente à corrupção, mas também no debate do que deve ser um desenvolvimento sustentável”, afirmou.

Citando Luís de Sousa, o académico que se distinguiu no combate à corrupção em Portugal, Karina de Carvalho afirma que também em Angola “a corrupção saiu da clandestinidade nos últimos três anos”.

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