CEDEAO envia “mensagem firme” à junta sobre as eleições no Mali
Nana Akufo-Addo, cujo país assegura a presidência rotativa da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), efetuou uma visita de algumas horas a Bamako, quando aumentam as dúvidas sobre o respeito pela junta dos compromissos que assumiu.
“A nossa mensagem é sem ambiguidade e dissemo-lo claramente: é necessário que as eleições decorram na data prevista”, disse à agência France-Presse um membro da delegação após os encontros na capital maliana.
“O objetivo consistiu em passar uma mensagem firme. E fizemo-lo”, acrescentou, sob anonimato. O chefe da junta e Presidente transitório, coronel Assimi Goita, limitou-se a escutar as recomendações, disse ainda o mesmo responsável sem mais precisões.
Uma delegação da CEDEAO deverá regressar a Bamako no final de outubro “na esperança de obter garantias”, indicou ainda, enquanto no exterior do palácio presidencial decorria uma manifestação de apoio à junta no poder.
Em setembro, a CEDEAO pediu às autoridades para que submetessem “o mais tardar” até final de outubro um calendário de “etapas essenciais” relacionadas com as eleições de fevereiro de 2022.
Esta deslocação decorreu num contexto securitário e político muito delicado, num país assolado por grande instabilidade desde 2012 na sequência de um golpe de Estado, e o início de rebeliões independentista e salafista no norte.
Os militares, que tomaram o poder pela força em agosto de 2020 e o fortaleceram com novo golpe em maio de 2021, comprometeram-se perante os seus vizinhos e responsáveis internacionais em transferir o poder para os civis após as eleições programadas para fevereiro de 2022.
No entanto, desde há várias semanas que a junta e o Governo transitório que instalou vêm emitindo sinais de que este prazo pode não ser respeitado.
Em simultâneo, a relação com o “parceiro” francês — que mantém 5.000 soldados no Sahel para combater grupos ‘jihadistas’ mas decidiu reduzir os seus efetivos a entre 2.500 e 3.000 homens até 2023 –, atravessa a sua mais grave crise desde o início da intervenção militar francesa em 2013.
Paris considera que o possível recurso de Bamako à empresa privada Wagner, que está a ser admitida pela junta apesar da polémica atuação deste grupo de mercenários russos em outras regiões, é incompatível com a presença francesa. Bamako tem invocado a sua soberania e acusou Paris de “abandono”.
Os parceiros do Mali consideram que os progressos políticos promovidos pela junta desde agosto de 2020 têm sido “mínimos”, e quando o país do Sahel continua assolado pela violência, no centro e junto às fronteiras com o Burkina Faso, e se inquieta com a sua progressão em direção a oeste e sul.