Petróleo passou ao lado da agenda da visita do Presidente da República
Aos observadores mais atentos não terá passado despercebido, o facto de o Governo local, a imprensa e o mesmo o Chefe de Estado não terem feito nenhuma referência à iminente exploração de petróleo na província do Namibe onde, à semelhança da sua vizinha de Benguela, foram recentemente descobertas grandes reservas petrolíferas.
Uma abordagem do tema, ainda que de leve, permitiria lançar alguma luz a viabilidade ou não desse projecto, os seus eventuais activos e passivos. Nas audiências que teve com as distintas figuras das vida económico-político e social, da sociedade social civil, autoridades regionais e tradicionais, o Presidente João Lourenço poderia ouvir as opiniões dos seus interlocutores sobre a futura exploração do crude naquela bacia, quanto mais não fosse na sua qualidade de ambientalista.
Convém salientar que os habitantes do Namibe e de Benguela não se entusiasmaram com a notícia da descoberta do «ouro negro» nas plataformas marítimas das respectivas províncias. Não houve passeatas, maratonas, bebedeiras colectivas e explosões de alegria.
Pelo contrário, há dúvidas, incertezas, raivas surdas e contestações. Tanto os benguelenses como os namibenses temem que o carapau e a sardinha, que já lhes chega à mesa em poucas quantidades, venham a tresandar a petróleo ou, mesmo, a desaparecer. Ou ainda, no pior dos cenários, a exploração de crude venha a ser um somatório de desastres ambientais e marcar o fim de uma actividade milenar, que constitui o principal sustento de milhares de famílias.
Mesmo sem terem sido consultados sobre as vantagens e desvantagens do crude, os benguelenses e namibenses estarão plenamente conscientes de que o petróleo não lhes trará melhorias na vida, à semelhança dos habitantes das províncias de Cabinda, Zaíre ou do Bengo onde se procede à exploração do «ouro negro» sem resultados palpáveis. Para eles, o petróleo ajudou apenas a enriquecer uns poucos, ou seja, uma elite depredadora e arrogante, e atirou milhões para as sarjetas da miséria extrema onde vivem com menos de dois dólares/dia.
Os mais lúcidos estranham essa apressada corrida ao petróleo quando sabem que mais anos, menos anos, o crude tende a dar lugar a outras fontes energéticas, mais limpas e economicamente menos onerosas.