Economia

António Segunda Amões, um primeiro exemplo

Quem é Segunda Amões, perguntaram-lhe um dia, e António, que também é o seu nome, respondeu: “Sou um empresário angolano, cuja história começa depois de 1979, altura em que o meu irmão mais velho, Faustino, foi transferido para o Cuando Cubango e abriu, nessa província, a alfaiataria Wapossoka. Anos mais tarde, fui ter com ele e, muito cedo, transformei-me no ajudante que, na ausência dele, tomava conta do negócio. A partir daí, nunca mais parei. Em 1991, fundei a minha empresa, a Angostroi, em Luanda, ligada à construção civil. Foi muito dinâmica nos anos 90. Trabalhávamos na recuperação de infra-estruturas provinciais: escolas e hospitais, fundamentalmente. Estivemos em mais de 10 províncias, mas foram os governos do Moxico e do Huambo os nossos maiores clientes. o crescimento do mercado e das necessidades típicas de um país que vivia um conflito armado, surgiram as oportunidades, e eu criei outras instituições, também neste ramo, como Soatel, Salovil, Seryl, e, em 1997, decidi-me pela fusão de todas no Grupo ASAS, de que sou presidente do Conselho de Administração”.

Acrescente-se a estes outros dados biográficos, António Segunda Amões, nasceu na aldeia Camela, comuna do Chiumbo, município do Cachiungo, província do Huambo. Mais tarde viajou para Baku, na ex-União Soviética, onde tirou o curso de Engenharia, no caso e, Geologia de Petróleos, estudou também em Direito, Gestão e Economia. O seu espírito empreendedor é uma coisa de família, a mãe vendia no mercador local e os irmãos mais velhos cedo se estabeleceram com negócios próprios, algo que terão herdado do fundador da aldeia da Camela, o bisavô Prata Camela. E foi à Camela, hoje Camela Amões por direito próprio, que dedicou empenhadamente os últimos anos da sua vida num projecto único em Angola. Verdadeiramente exemplar.

Recuperar aldeias foi também uma opção empresarial, como Segunda Amões explicou um dia em entrevista à Angop: “O Grupo ASAS é hoje proprietário de vários empreendimentos, designadamente uma imobiliária, uma empresa de transportes e outra de equipamentos e viaturas pesadas de construção que se dedica à edificação de casas para renda e venda, com um activo acima de mil milhões USD. Devido à crise económica mundial, decidimos inclinarmo-nos, fundamentalmente, para um produto: a reforma das aldeias de Angola. Apresentámos a nossa proposta ao Governo e vamos mostrando à sociedade o que um empresário angolano consegue fazer com fundos próprios. O principal objectivo é reformar as aldeias do país, com base num exemplo-piloto que estamos já a implementar na aldeia Camela Amões”.

Provavelmente esse seria o seu destino, mas que aconteceu por acaso, eis as razões que levaram Segunda Amões a fixar a Camela como a sua prioridade: “Em 2011, tivemos uma infelicidade no seio da família; morreu uma tia nossa que tinha estado hospedada, durante algum tempo, connosco na África do Sul, e, portanto, tínhamos criado certo laço. Por essa razão, a minha esposa decidiu-se a acompanhar-nos no óbito que se realizou na Camela Amões, de onde era natural e residente. O velório ocorreu na sua humilde casa e tudo debaixo de uma mangueira, sem as mínimas condições, como uma casa de banho. Nessa ocasião, a minha esposa fez-me a seguinte crítica: – “O teu irmão Faustino é rico; o teu irmão Valentim é muito rico; tu és uma pessoa rica. Não consigo perceber como é que pessoas tão abençoadas permitem que o lugar onde nasceram não tenha sequer uma casa de banho. É uma vergonha”!Assim, depois de engolida a crítica, decidimo-nos (os irmãos) a dar alguma dignidade à nossa aldeia. Começámos por construir uma escola, um centro médico e duas igrejas. A obra começou a ficar bonita e pusemos uma loja para a permuta de produtos. Quando as condições estavam mais ou menos criadas, construímos uma casa social para o nosso avô, que logo se destacou das demais. Foi aí que começou a surgir a ideia de dar real dignidade à nossa aldeia. Preparámos o projecto e começámos a estendê-lo, aos poucos, a toda a aldeia”.

E na mesma entrevista explica que “o nome é dado em homenagem ao fundador da aldeia, o nosso bisavô Prata Camela, mas, ao longo de 2014, quando dizíamos que íamos à Camela, perguntavam para que Camela nos dirigíamos, já que as aldeias ao redor eram, quase todas, denominadas Camela (em Umbundu folha pequena), e as pessoas, para diferenciarem, sempre se referiam à nossa aldeia como a Camela do Valentim Amões, portanto, daí passou facilmente à Camela Amões”.

O projecto é hoje elogiado por todos, populações e governantes, é o verdadeiro exemplo do que pode ser feito com “a acumulação primitiva de capital”, ou seja, mais do que o dinheiro, a riqueza está na humanidade com que vive o país, a começar com uma pequena aldeia do planalto central.

Related Articles

Back to top button