Cultura

FACEBOOKADAS AO SÁBADO: Colocar a carroça à frente dos bois – Ilídio Manuel

Na semana passada, o PR deslocou-se a Benguela para (re) inaugurar a antiga fabrica têxtil 1º de Maio que se encontrava há «séculos» paralisada, por força de uma série de condicionalismos.

Ninguém em sã consciência pode negar ou preterir a importância que isso representa no actual panorama socioeconómico, o que permitiu a criação de mais postos de trabalho, embora não se saiba ao certo quantos empregos foram gerados devido à divergência de números fornecidos pelos distintos órgãos de comunicação social públicos. Cada um empolou os números à sua maneira, no afã de mostrar serviço para, provavelmente, agradar o Executivo.

Seja como for, o acto de relançamento do sector industrial reveste-se de particular importância com vista a reduzir a crónica dependência ao petróleo.

Contudo, chamou-me uma particular atenção o facto de a matéria-prima para alimentar a fábrica de têxteis, mais concretamente o algodão ser importado do estrangeiro quando o mesmo deveria ser produzido em Angola, com todas as vantagens daí decorrentes.

Sabendo-se que o projecto já estava na forja há vários anos, por que não criaram as condições para que os campos agrícolas tivessem já produzido o algodão necessário para evitar a importação? Por que razão, as coisas são sempre feitas em cima do joelho, sem a devida margem de antecedência?

Li há dias no Jornal de Angola que o projecto Aldeia Nova vai doravante produzir a ração para sustentar a avicultura e a produção de ovos naquele complexo agro-industrial.

Há uns anos, estive no Waco Kungo, integrado numa comitiva de jornalistas, que lá se deslocou quando do relançamento da «Aldeia Nova», um projecto financiado em cerca de 70 milhões de dólares pelo executivo israelita. Estiveram no local vários ministros e gestores angolanos, assim como embaixadores de vários países para testemunhar o lançamento do projecto que iria absorver a mão-de-obra de milhares de antigos militares das forças governamentais e dos ex-rebeldes.

Achei estranho que um projecto daquela dimensão – erguido no antigo colonato da Cela – não comportasse uma fábrica para a produção local de ração para alimentar a avicultura, suinicultura e bovinicultora.

Os receios e o pessimismo aumentaram quando fiquei a saber que o projecto seria alimentado por fontes energéticas térmicas, numa região atravessada, paradoxalmente, por vários cursos de água onde poderiam ser erguidas várias mini-hídricas…

Felizmente, este problema terá sido ultrapassado com a recente conexão à rede eléctrica de Laúca, depois de queimarem durante anos a fio «toneladas e toneladas» de gasóleo.

A construção naquele local de pequenas barragens não só iria trazer inúmeras vantagens para alimentar em energia o complexo agrícola, como também poderia servir para aumentar a qualidade de vida das pessoas à volta do projecto.

Soube que durante anos, a ração, que podia ser produzida localmente, foi importada e, provavelmente, isso terá engordado alguns bolsos dos importadores…

Infelizmente, paira entre nós uma tendência para lançar projectos megalómanos, mal concebidos, como, por exemplo, o Complexo agro-industrial de Capanda, em Malanje, destinado à produção de açúcar, etanol e energia, mas que, em distintas ocasiões, foi ou tem sido forçado a paralisar as suas actividades devido à falta de matéria-prima, nomeadamente a cana-de-açúcar.

Exemplos de «elefantes brancos» abundam entre nós. Há poucos meses, o ministro da Agricultura visitou um complexo agro-industrial no Cubal, província de Benguela, destinado à produção de milho, numa região tradicionalmente vocacionada para a cultura do sisal. Significa que só deram conta disso, depois de «torrarem» a módica quantia de 40 mil milhões de dólares…

«Isto é Angola!», lembrei-me daquela propaganda governamental em torno das obras públicas, cujos custos não eram revelados aos cidadãos/contribuintes.

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