Cultura

Entre o cadáver adiado e o cadáver roubado

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O homem que governou o país durante quase 40 anos jaz agora, gelado, numa gaveta de um tanatório em Barcelona, Espanha, onde passou os últimos anos da vida em tratamento médico e razoavelmente mal-tratado por tantos dos que o rodearam em vida.

Uma disputa na praça pública entre a família Dos Santos e o Estado angolano tem produzido pérolas de mau gosto, que transforma a morte de José Eduardo dos Santos em algo pouco digno, ainda mais, para a cultura africana. Tchizé dos Santos diz o que lhe vai na alma onde e quando quer sem atender a quaisquer razões de Estado, mas o Estado angolano quando produz um comunicado em que fala de “dois dos seus muitos filhos” está, claramente, a ser rude e indelicado para com o antigo chefe de Estado a quem quer fazer um funeral condigno com a sua condição. Não podia ser mais contraditório. Aliás, contraditória foi, desde que assumiu o poder, a atitude do actual Presidente da República para com o seu antecessor.

Agora mais uma histórica, verdadeiramente rocambolesca, que envolve o cadáver do antigo presidente.

Segundo o que escreve o Clube K – o que não foi confirmado por fontes oficiais – as autoridades espanholas registaramm nesta quarta-feira, 10 de Agosto, uma tentativa para retirar o corpo de José Eduardo dos Santos do tanatório – instalações destinadas a diversos tipos de cerimónias fúnebres e preparação de cadáveres – do Instituto de Medicina Legal de Barcelona.

Reivindicava o cadáver um homem que se identificou como Victor Fonseca, que compareceu no tanatório ao início da tarde, com uma série de documentos que, alegadamente, lhe daria legitimidade para levantar e levar o cadáver do antigo presidente.

No entanto, os responsáveis pelo Instituto de Medicina Legal da capital catalã, antes de fazerem a entrega do corpo, decidiram contactar a família.

Aventa-se a possibilidade de os autores do roubo tentado do cadáver de José Eduardo dos Santos estarem inconformados com a morosidade da Justiça espanhol – que por agora está em férias judiciais até 31 de Agosto só resolvendo casos considerados muito urgentes – querem aproveitar isso mesmo e fazerem justiça pelos seus próprios meios.

No tem que que liderava a UNITA, Jonas Savimbi terá estudado a possibilidade de regastar os restos mortais de um sobrinho, Elias Salupeto Pena, que se dizia estar escondido numa câmara frigorífica no Mausoléu António Agostinho Neto, em Luanda, também para o proteger de um alegado ritual. Tanto quanto se sabe, não o fez.

E também não se sabe que consequências terá neste caso o facto de um alegado “Victor Fonseca” se sentir à vontade para ir ao tanatório, com documentos que ninguém sabe quem os produziu e enviado por quem, para levantar o corpo de José Eduardo dos Santos e que fim lhe daria, afinal.

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