Este artigo surgiu no intuito de se escrever alguma coisa na minha página de facebook, onde tenho uma rubrica “pensambulando” em que reflito sobre diversificados temas. Hoje, fruto do confinamento a que estamos submetidos, por inerência da covid-19, surgiu-me a ideia de reflectir sobre o comportamento dos nossos docentes universitários. O que fazem nesta fase?
Um dos motes do Ensino Superior em Angola é “investigação e inovação”. A quem se deve imputar tal responsabilidade de investigar e inovar? Ao professor, claro. Porém, o que tem se ouvido é que “os alunos vêm mal preparados para as universidades”; “os alunos não lêem”; “não há livros em Angola”, entre outros argumentos que ofuscam a fragilidade dos professores que temos ao nível do Ensino Superior. O nossos professores investigam, inovam? É nesta fase que vamos notando alguns professores que se reinventam fora da sala de aula.
Os professores universitários em Angola (sem ser generalista, mas boa parte deles) têm medo de serem escrutinados. Confinam-se a reproduzir para os alunos o conhecimento que os livros oferecem, sem dar sequer uma oportunidade de os mesmos questionarem tal conteúdo: está escrito e está certo, como se de um dogma se tratasse. Não é que os alunos não saibam de todo, mas os professores também não incitam o pensamento crítico dos alunos (poucos o fazem). É estranho ver um professor que se diz universitário, a não criar fora da sala de aulas um espaço para mostrar o que sabe, como seja escrever um livro (nem que seja a parte teórica da sua monografia, dissertação ou tese), um artigo, a participação em conferências, a participação em debates temáticos de suas áreas afins nos media, enfim. Que receio têm? É necessário que o professor ponha ao público algum conhecimento seu para que este seja escrutinado pelos seus pares. É a caminhar que se faz caminho. Precisa-se de professores que investiguem e tenham opinião própria, resultante das várias pesquisas e leituras que devem fazer. Uma vénia para os que produzem!
Há um outro dado que também me preocupa: a forma como são “contratados” os docentes, principalmente os das universidades privadas. Já se viu recém-licenciados, que nunca se destacaram como melhores alunos em seus consulados estudantis, a receberem cadeiras que, nalgumas vezes, conseguiram aprovar as mesmas mediante submissão a exames de recurso e com notas inferiores a 14 valores. Que autoridade académica ou científica terão estes professores frente ao aluno? Teriam estes capacidade para travar ou moderar um debate em sede de sala de aula? Como serão capazes de sugerir bibliografia daquela cadeira para os alunos? A Universidade é um lugar muito sério.
Muitos professores vêem nas universidades privadas um lugar para “mendigar” e “vender” módulos, infelizmente. Quantos professores são requisitados para as Universidades por onde leccionam?
Se se passar “pente fino” nos perfis de facebook de alguns dos nossos docentes universitários notaremos diferença com os perfis dos alunos que são chamamos de despreparados? Talvez não. É possível acreditar em alguém que se diz especialista e em seu perfil não se notar conteúdo algum da sua área de investigação científica? O facebook seria ao menos o primeiro passo para que muitos se afirmem como especialistas numa determinada área.
É preciso que nos próximos tempos haja mais rigidez na selecção de professores do Ensino Superior, se quisermos que o Ensino Geral tenha a qualidade que se deseja. É a Universidade que prepara o professor para leccionar nas classes da base. De contrário, estar-se-ia a formar especialistas para a construção de uma bomba relógio, que um dia poderá fazer Angola desaparecer do mapa do conhecimento.