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A relativização da fome: Factos reais ou encenação do povo? – Teresa Cabari

A relativização da fome: Factos reais ou encenação do povo?

Nos últimos meses, em Luanda e nas demais províncias do País, regista-se um cenário triste que denuncia de forma evidente a realidade da fome no país, com a presença de vários cidadãos aos contentores e residios de lixo, a procura de algo para comer, e até mesmo para sustentar a família, catando garrafas plásticas ou metálicas que servem de troca em empresas de reciclagem, que os serve de fonte de rendimento para comprar pão para suas famílias.

Porém, essa realidade foi rebatida pelo presidente João Lourenço, nas vestes de líder do MPLA, durante o seu discurso de “vencedor” no VIII congresso do partido que lidera Angola desde 1975, data da “independência” nacional, afirmando que tal facto é relativo.

João Lourenço, rebatia as criticas de seus opositores políticos que duramente criticavam a governação do chefe de estado, apontando para o agravamento da fome e o drama da recolha de comida no lixo, que de certa forma foi normalizada, acrescentando que “há muita produção de bens alimentares no país”

Mas, por outro lado, João Lourenço, admitiu a existência do desemprego no país, que tem dificultado o poder de compra por parte dos cidadãos, o que tem elevado ainda mais a fome entre os cidadãos.

A questão que se coloca aqui é: a fome é real ou apenas encenação do povo?

Caso a resposta seja encenação do povo para denigrir a governação de João Lourenço, e que ele na verdade esteja certo em relativizar a mesma, como explicar os constantes saques aos camiões que transportam comida para os estabelecimentos de venda em várias parte do país com destaque à província de Benguela e Luanda?

Como explicar o elevado número de desnutrição no país, que até o ano passado matou mais de 100 crianças nas províncias o sul do país?

Como explicar a migração de vários cidadãos do sul do país para os países vizinhos, com destaque à Namíbia, por falta de alimentação e condições de vida? Cidadãos estes, cujo governo iniciou a campanha de repatriamento de mais de sete mil cidadão angolanos que emigraram para o país vizinho, dormindo em situações precárias devido à fome que os assola há mais de três anos?

Caso a fome seja “sempre relativa” como afirmou o presidente João Lourenço em rebate aos seus opositores, e se há realmente muita produção de produtos alimentares no país, porquê as constantes exportações de produtos alimentares no país, e porquê que a Reserva Estratégica Alimentar está a ser composta com produtos alimentares exportados e não produtos nacionais produzidos no território angolano, já que há muita produção como afirmou o presidente?

Ou ainda, porquê que o presidente anunciou a existência de verbas para construção de projectos de barragens de Calucuve e de Ndúe, no âmbito dos projectos estruturantes para combater a seca que tem assolado o sul do país e consequentemente motivado à fome e desnutrição por falta de poder de compra e produção alimentar nas respectivas regiões?

Recentemente, um cidadão morreu, vitima de um disparo efectuado por um segurança que protegia um camião que transportava sacos de arroz saindo do porto de Luanda, que estava a ser alvo de saques por parte da população que procuravam indefesos, porém, destemidos por algo para comer junto com sua família.

A “fome é sempre relativa” quando a realidade de quem governa não permite enxergar além do poder e dos benefícios que o mesmo traz.

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