Em Washington, o Presidente João Lourenço ouvia do seu homólogo norte-americano da importância de ter instituições fortes para enfrentar todos os atropelos à democracia, como foi o caso, nos Estados Unidos, da invasão do Capitólio, em 6 de Janeiro de 2021.
Em Luanda, a sede do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) era assaltada pela terceira vez em um par de meses e em véspera de uma marcha de protesto contra a pressão sentida sobre jornalistas em particular e sobre órgãos de comunicação social independentes ou que tentam, simplesmente, fazer jornalismo de acordo com os manuais e não darem notícias de forma tão parcial que por vezes é quase patética, veja este caso: “Presidente da República recebido na Casa Branca – A agenda de trabalho do Presidente da República, aqui em Washington, ficou marcada com a sua recepção, quarta-feira, na Casa Branca, pelo Presidente norte-americano Joe Biden, durante um jantar que este ofereceu aos líderes africanos presentes na Cimeira EUA-África. Na ocasião, os dois estadistas saudaram-se com um aperto de mão e fizeram uma foto, ladeado das esposas, para a posteridade”, escreve o Jornal de Angola como se fosse o boletim oficial de um regime autocrático – pensando bem, é – mas sem o menor sentido crítico e de bom senso.
Voltando ao assalto à sede do SJA, é a terceira vez num curto espaço de tempo, no início de Dezembro, e no espaço de uma semana, registaram-se outros dois assaltos, em que alguém se apropriou da unidade central de processamento (CPU) do computador principal, que já tinha sido roubada e devolvida, concomitantemente com esta iniciativa criminosa, várias mensagens ameaçadoras foram enviadas ao secretário-geral do sindicato, Teixeira Cândido. Neste último assalto, foi também levado o monitor.
Teixeira Cândido já reagiu, e ao segundo assalto admitiu publicamente que o SJA entende que a classe está sob ataque, também porque outros jornalistas foram vítima de assaltos com o mesmo padrão, e falamos de João Armando, director do Expansão, e de Raquel Rio, delegada da agência Lusa em Luanda.
“Não vamos negligenciar isto. É de facto um ataque aos jornalistas e não ao sindicato. Quem assalta os computadores dos jornalistas não quer brincar, mas sim ameaçar-nos”, disse em conferência de imprensa Teixeira Cândido.
Na mesma altura, Reginaldo Silva, membro da Entidade Reguladora de Comunicação Social (ERCA), salientou que para além desta violência directa, tentam condicionar o trabalho dos jornalistas. “Estão a atacar-nos para destruírem os canais independentes. Porque os canais públicos (do Estado) crescem, disse o representante do SJA na ERCA.
A entidade reguladora, que passa a vida a assobiar para o lado quando a imparcialidade dos órgãos de comunicação social está em causa, sendo o órgão institucional que devia intervir, especialmente em período eleitoral, foi absolutamente prestativa e já veio condenar a atitude de Reginaldo Silva porque ter participado na conferência de imprensa lado a lado com Teixeira Cândido.
Reginaldo Silva já fez saber à ERCA que antes de tudo é o representante do SJA na instituição e a sua solidariedade institucional está com a sua classe: os jornalistas.
Também os partidos políticos da oposição anunciaram esta sexta-feira a sua disponibilidade para fazerem parte da marcha dos jornalistas.
“Vamos estar presentes na marcha dos jornalistas”, confirmou o líder do Grupo Parlamentar da Unita, Liberty Chiyaka, sublinhando que os jornalistas não podem continuar a ser intimidados enquanto o Executivo não diz nada.
O secretário-geral do Bloco Democrático (BD), partido que viu a sua marcha impedida pelo GPL, disse que os jornalistas angolanos sofrem constantemente ameaças, por isso, têm o direito a realizar uma marcha de protesto.
“Estamos solidários com a marcha dos jornalistas”, disse ao Novo Jornal Muata Sebastião.
Entretanto, SJA ainda não recebeu uma resposta do Governo Provincial de Luanda (GPL), sobre se vai ou não autorizar a marcha que terá lugar no sábado.
A marcha vai ter início às 10:00, no cine Atlântico, passa pelo Largo da Independência, segue para o Jumbo, Unidade Operativa, e termina na rua da Liberdade, na Vila Alice, inúmeros jornalistas já anunciaram a sua adesão ao protesto, entre eles está, por exemplo, Carlos Rosado de Carvalho que anunciou no Twitter que vai estar presente na marca em nome da liberdade de informação e de expressão, contra o medo.
O Sindicato dos Jornalistas Angolanos é uma associação profissional apolítica, apartidária, sem fins lucrativos e de defesa dos empregos e da liberdade de expressão dos seus associados. Foi fundado em 1992.