Economia

Emissão obrigacionista da Sonangol é bem-vinda para a Bolsa de Luanda

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A Bolsa de Dívida e Valores de Angola (Bodiva) saudou a decisão da Sonangol da emissão de obrigações, no valor equivalente a 150 milhões de dólares (142 milhões de euros), anunciada pela petrolífera estatal.

O responsável do Departamento de Desenvolvimento de Mercado da Bodiva, Nivaldo Matias, comentou a iniciativa da Sonangol, que ainda não foi dada a conhecer formalmente à instituição, como “bem-vinda”.

Sobre o “caso recente da Sonangol, ficamos muito felizes com a notícia, com a iniciativa”, disse Nivaldo Matias, acrescentando que o processo fica formalizado com a integração das obrigações na central de valores mobiliários da Bodiva e com o pedido de admissão à negociação.

Nivaldo Matias destacou que têm conhecimento que, além da Sonangol, uma das maiores companhias do país, outras empresas da praça financeira angolana também já estão a considerar o mercado de capitais como fonte de financiamento alternativa ao sistema financeiro da banca.

“A felicidade da Bodiva é que haja essa consideração por parte das empresas, porque efectivamente vai ajudar aquilo que é um problema de financiamento, que muitos agentes económicos vão reclamando, mas que por essa marca Sonangol também mostrar esse apetite ao mercado de capitais, vai, se calhar, motivar outras empresas a perceber que há uma outra fonte de financiamento”, sublinhou o responsável da Bolsa de Valores de Luanda.

A Sonangol disse que, em data oportuna, vai avançar com uma emissão de títulos obrigacionistas, num valor equivalente a 150 milhões de dólares, salientando que “entre as várias modalidades de financiar as suas actividades, a empresa considerou esta via que permite ao investidor receber periodicamente os juros deste instrumento de dívida obrigacionista, assim como o valor investido”.

“Este modelo de financiamento irá alavancar as operações e investimentos baseados numa empresa com mais de 46 anos de experiência no setor petrolífero, cuja visão passa por se tornar uma companhia de referência, no continente africano, sempre comprometida com a sustentabilidade e o desenvolvimento do país”, refere o comunicado da companhia divulgado no último sábado.

Entretanto, num artigo de análise, do português Jornal de Negócios, considera-se que o Estado angolano dificilmente abrirá mão da ‘galinha dos ovos de ouro’, como chamou o Presidente João Lourenço à Sonangol.

“A expressão “no dia de são nunca, à tarde” costuma ser usada para comentar um evento que jamais se realizará. Ou seja, não existindo um santo designado como são nunca, é óbvio que nunca poderá existir um dia dedicado ao mesmo. Trata-se de uma quadratura do círculo”, escreve o Jornal de Negócios.

Que prossegue: “Foi isso mesmo que fez o presidente da Sonangol, Sebastião Gaspar Martins, ao redefinir o calendário de abertura do capital da petrolífera a privados, apontando agora para 2027. Só “após o cumprimento de um conjunto de metas entre 2023 e 2027, entre elas aumentar a produção nacional de petróleo e gás natural, é que a Sonangol vai dispersar 30% do seu capital via IPO”, declarou o líder da empresa no decurso da III Conferência Internacional Angola Oil & Gás que decorreu em Luanda.”

“Sebastião Gaspar Martins embrulhou esta longa procrastinação num conjunto de metas. Além de fazer crescer em 10% a produção nacional de petróleo bruto e gás, o gestor referiu também o aumento da capacidade nacional de refinação de petróleo bruto, para reduzir a dependência de importações bem como desenvolver pelo menos um polo petroquímico, assim como outros de natureza ambiental, dado que as questões relacionadas com a sustentabilidade se tornaram essenciais na prática discursiva de empresas e governos”, pode ler nos mesmo artigo.

Para acrescentar que a abertura do capital da Sonangol poderá verificar-se em 2027, como a Camunda News lhe deu conta, mas a frase se “todas as pré-condições forem atendidas” é de uma enorme ambiguidade, ou equivale mesmo, como escreve Celso Filipe, a “um dia de são nunca, à tarde”.

Entretanto, o jornalista económico também comenta a emissão obrigacionista, e escreve: “Para mitigar este cancelamento “sine die”, a Sonangol anunciou no passado sábado que vai avançar com a emissão de obrigações no valor equivalente a 150 milhões de dólares (142 milhões de euros), “em data a informar oportunamente”, para financiar os seus investimentos. Na teoria, irá tratar-se de uma boa aplicação para fundos de investimento e aforradores, dependendo do juro oferecido, mas não muda nada de substantivo”.

Por fim, outras considerações que são relevantes: “Além disso, este protelamento de uma operação de privatização, a qual poderia traduzir-se na entrada do capital de um ou mais parceiros estratégicos, irá fragilizar a Sonangol num contexto altamente competitivo no qual as petrolíferas são desafiadas pelo combate às alterações climáticas e a chamada descarbonização da economia”.

Para concluir que “a Sonangol é uma empresa simbólica da economia angolana. Aquilo que se faz com ela é também um sinal dos planos do Governo para o futuro, sendo que este protelamento põe em causa as suas promessas reformistas”.

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